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Escritos de Saúde Coletiva

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coleção de estudos do Doutor Luiz Carlos P. Romero

A maior proporção de gastos com as ‘medicinas alternativas’, no entanto, não se faz no setor

público, mas decorre da compra direta de serviços a profissionais em prática liberal – exatamente

a fatia mais desejada e mais significativamente afetada do mercado de trabalho médico.

Racionalidades médicas

Madel Luz e seu grupo de trabalho do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual

do Rio de Janeiro propõem que o estudo e compreensão de sistemas médicos complexos – as

diferentes ‘racionalidades médicas’ – se faça a partir de cinco dimensões: uma ‘morfologia humana’,

denominada na Medicina Ocidental como ‘anatomia’; uma ‘dinâmica vital’, definida, entre

nós, como ‘fisiologia’; uma doutrina médica (‘patologia’); um ‘sistema de diagnose’ (‘semiologia’ e

‘semiotécnica’) e um ‘sistema de intervenção terapêutica’.

Esse conjunto de dimensões se refere a uma sexta que as embasa e explica e que esses autores

denominam de ‘cosmologia’.(1)

O conhecimento básico das diferentes ‘medicinas alternativas’ praticadas no País – e não é

necessário ser médico para isso – permite ver com clareza que as diferentes medicinas se caracterizam,

exatamente, pelas diferenças fundamentais dessas suas respectivas ‘dimensões’.

A Medicina Tradicional Chinesa, por exemplo, identifica e trabalha com estruturas anatômicas

– os meridianos e seus pontos – que não são reconhecidos pelas demais medicinas, inclusive a

Medicina Científica Ocidental, que busca comprovar cientificamente sua existência, mas não os

considera como elementos relevantes para a prática médica.

Da mesma forma, a Medicina Tradicional Chinesa identifica e trabalha com conceitos fisiológicos

que não são reconhecidos ou empregados pelas demais. Entre eles estão o de unicidade

funcional do baço-pâncreas – que, para a Medicina Científica Ocidental, constituem dois órgãos e

duas funções – e o da circulação do Qi, espécie de ‘energia do corpo’, não identificada nem reconhecida

pelas demais medicinas.

Nas formas de explicar a causa e a evolução das doenças – a ‘doutrina médica’ de Luz ou a

nossa Patologia – encontramos igualmente diferenças significativas. As duas vertentes da Medicina

Científica Ocidental – alopática e homeopática – partilham as mesmas anatomia e fisiologia

e ambas se propõem como abordagens ‘científicas’, no entanto, explicam a causação das doenças

de forma diversa, negando reciprocamente a explicação uma da outra.

Fatores como vento, frio e calor são entendidos como causadores de doenças de maneiras

absolutamente distintas pelos médicos chineses, vedas e ocidentais.

Mas as mais radicais diferenças entre as medicinas são encontradas na semiologia e na terapêutica

– os sistemas de diagnose e de intervenção terapêutica, na designação de Luz.

A forma de diagnosticar de um médico ocidental alopata é absolutamente divergente da forma

e dos meios adotados por seu ‘primo’ homeopata: enquanto o alopata examina o organismo

do paciente e analisa amostras de suas partes – cada vez mais com o concurso de máquinas e

equipamentos – e valorizando principalmente sinais, o homeopata necessita entrevistar longamente

seu paciente para ‘repertorizá-lo’, isto é, listar o conjunto de sintomas do paciente – pesqui-

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