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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

4.4 - A prevenção do uso de drogas (1998)

O uso de drogas como problema de saúde pública e os jovens

Ainda que o uso de drogas psicoativas tenha sido relatado em todas as culturas estudadas,

esse comportamento só passou a ser problemático, configurando um grave problema de saúde

pública, na segunda metade deste século, em especial a partir da década de 1960.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o número de heroinômanos era ridículo

nos Estados Unidos, inferior a um milhar. No início da década de 1950, esse número havia, no

máximo, dobrado. O mesmo poderia ser dito em relação à cocaína, tanto nas cidades americanas

como nas europeias. A maconha nunca tinha sido usada por um número relevante de pessoas,

quer nos Estados Unidos quer na Europa, e continuava não sendo. O perfil do usuário era o de um

homem branco, com mais de quarenta anos e integrado socialmente; seu vício tinha, com muita

frequência, origem iatrogênica. Esse perfil, a partir dessa época, passou, lentamente, a mudar

para um outro, de tipo moderno: jovem, desempregado e proveniente das regiões mais pobres

das grandes cidades (1).

Outra, no entanto, era a situação do consumo de álcool e tabaco, que ganharam os mercados

americano e europeu no pós-guerra, com crescimento exponencial de usuários. No início da década

de 1960, os Estados Unidos passaram a sofrer uma séria epidemia de doença coronariana,

em decorrência do largo uso do tabaco após a Segunda Grande Guerra. São deste período os

primeiros relatórios das autoridades sanitárias daquele país sobre o problema.

Em meados dos anos 60, o consumo de certas drogas se vincula com questões de índole sociocultural,

como o retorno à vida rural, a preocupação com o ambiente, a liberalização do sexo,

o pacifismo, a corrente humanista da Psiquiatria e a contracultura. Nas palavras de Escohotado,

“foi como se, de repente, o Club des haschischiens houvesse aberto infinidades de sucursais nas

sociedades avançadas e como se todas elas conspirassem, sem misericórdia, contra a ordem e

os valores reinantes, sendo, ao mesmo tempo, um setor muito criativo e pacífico, que produzia

rentáveis novidades em música, artes plásticas, literatura, serviços, moda, linguagem, cerimônias

e relações interpessoais”.(1)

Na Europa Ocidental, o consumo de drogas psicoativas (não incluídas aqui o álcool, o tabaco

e a cafeína) adquiriu uma dimensão epidêmica e uma verdadeira transcendência social a partir

da segunda metade dos anos sessenta. A epidemia de consumo de heroína se iniciou na primeira

metade da década dos setenta, época em que se iniciou também a detectar um grande consumo

de Cannabis (2). O aumento progressivo da ocorrência de urgências médicas relacionadas ao uso

de drogas data do início da década de 1980. À heroína, e ao seu uso injetável, ainda que não seja a

droga de uso mais prevalente, pode-se associar a praticamente totalidade dos problemas associados

(mortes por reação aguda, overdose e infecção pelo HIV e vírus das hepatites). (3) O consumo

de drogas teve um tal impacto na mortalidade, que ele se converteu na primeira causa de morte

de adultos jovens em algumas grandes cidades da Espanha no início dos anos 90.

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