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Escritos de Saúde Coletiva

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coleção de estudos do Doutor Luiz Carlos P. Romero

4.6 - Cartão vermelho para a FIFA ou quando o esporte faz mal

para a saúde (2006)

As atividades esportivas – da mesma forma que as culturais – são dependentes de investimentos

públicos. Quando eles não são aportados, seus promotores recorrem à iniciativa privada.

A Copa do Mundo de Futebol de 2006 não escapou à regra e está sendo grandemente financiada

por grandes marcas globais que pagaram mais de 75 milhões de reais em troca de direitos de

exclusividade e marketing e em patrocínios.

Até aí nada de mais. O problema é que, entre os principais financiadores desta Copa estão

alguns dos gigantes das indústrias de comida fast-food, de refrigerantes e de cervejas. Afora isso,

várias seleções nacionais também estão sendo patrocinadas por essas marcas e vários jogadores

– alguns dos nossos entre eles – estão fazendo publicidade para elas.

Isso não é de hoje. Estão na nossa memória Daiane dos Santos competindo nas últimas Olimpíadas

com o nome de um refrigerante escrito em seu uniforme – marca que, por sinal, foi a

patrocinadora oficial de nossa equipe naquele evento – e o Ministro dos Esportes baixando uma

medida provisória para permitir a publicidade de cigarros num dos últimos prêmios da Fórmula

Um, em São Paulo.

A Fifa, que em 2002 recebeu um prêmio da Organização Mundial da Saúde por ter promovido

a “Copa do Mundo sem Tabaco” no Japão e Coréia, neste ano não apenas permitiu fumar nos

estádios como isqueiros e cinzeiros estão entre os brindes oficiais do evento. A manifestação de

organismos internacionais de saúde, de associações médicas e de organizações não-governamentais,

que arrecadaram milhões de assinaturas no mundo inteiro pedindo a proibição de fumar

e consumir bebidas alcoólicas nos estádios, demoveram os organizadores.

Num mundo assolado pelo crescimento da obesidade e das doenças crônico-degenerativas,

associadas aos maus hábitos alimentares, ao tabaquismo, ao consumo de bebidas alcoólicas e ao

sedentarismo, é inadmissível que um evento esportivo dessa magnitude ofereça uma plataforma

de marketing de tamanha eficácia para, exatamente, os vendedores de hamburgeres, refrigerantes

e cervejas.

Há muitos anos os produtores desses produtos e seus aliados, os publicitários e os meios de

comunicação, sabem que a associação de seus produtos e suas marcas com valores positivos

para a cultura – o esporte e o futebol entre eles – são necessários não apenas para promover seu

consumo como para permitir sua sobrevida nesse mercado milionário a medida em que mais e

mais evidências científicas apontam para sua culpa como favorecedores de obesidade, doenças

cardíacas, diabetes e acidentes de trânsito. Sua sobrevivência a longo prazo depende disso. A

experiência da agroindústria do tabaco está aí para comprovar.

Quando a pesquisa científica demonstrou cabalmente os malefícios do tabaquismo e da poluição

tabáquica ambiental e, mais tarde, com o crescimento das restrições e da proibição à publicidade

direta em vários países, a atividade promocional dos fabricantes de tabaco voltou-se

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