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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

“emergentes” em razão de terem, assim, se tornado atraentes novos mercados, implementaram

reformas políticas, econômicas e institucionais voltadas para o livre funcionamento dos mercados

e receberam a maior parte dos fluxos de capitais provenientes dos países centrais, nos anos da

década de 1990.

As repercussões dessas reformas pró-mercado no setor saúde foram importantes e resultaram

na redução da participação do Estado como financiador e provedor de serviços de saúde e no

estímulo à participação privada por meio da abertura do mercado nacional à produção internacional

de bens de saúde e na forma de organizar a assistência médica, principalmente sob a

modalidade de planos e seguros privados de saúde.

No caso brasileiro, esse processo se deu exatamente nos anos que se seguiram à entrada em

vigor da nova Constituição, com a eleição de sucessivos governos de coalizão de orientação neoliberal

– situação que persiste até o momento de redação deste ensaio. (2009)

Essa remodelagem da intervenção do Estado na economia reproduziu no país o que tinha

sido experimentado no Chile, sob a ditadura de Pinochet, a partir de 1973, na Inglaterra de Margareth

Thatcher, a partir de 1979, e nos Estados Unidos, de Ronald Reagan, a partir de 1981. Esse

processo, deslanchado no país a partir das privatizações em 1987, desaguou na institucionalização,

em 1990, de um dos maiores programas de reforma do Estado em uma economia capitalista

no mundo – compreendo as dimensões administrativa, patrimonial e de política econômica –,

caracterizado por demissões, privatizações e retirada do Estado da economia, em nome da modernização

do Estado e da economia nacionais, sob a orientação de uma nova roupagem da velha

ideologia liberal.

No contexto do que ficou conhecido como a reforma social-liberal do Estado, o setor público

brasileiro, em busca do “Estado mínimo” preconizado pelos paradigmas liberais, deixou de ser um

grande produtor e gestor de serviços públicos para se tornar um Estado normativo. A máquina

estatal foi desaparelhada, em busca de modernização gerencial. O ajuste fiscal – com redução

de investimentos e gastos públicos – promoveu a fragilização e, em alguns casos, a ausência, de

políticas sociais. O aumento da arrecadação tributária foi destinado a fazer superávit fiscal, pagar

os juros da dívida e sustentar a terceirização.

Seguindo a lógica neoliberal, o Estado transferiu, para a iniciativa privada, a liderança do processo

de desenvolvimento econômico e a produção de bens e serviços e tornou-se, fundamentalmente,

regulador das concessões de serviços públicos, mediante a criação de agências reguladoras

especializadas, e provedor apenas subsidiário de funções públicas clássicas como educação,

saúde pública e segurança. Na área social – previdência, saúde, educação, segurança –, a política

favoreceu a privatização, estimulando o aumento da participação do setor empresarial privado,

com predominância de valores individualistas típicos da concorrência capitalista.

Como projeto de um sistema de saúde público e universal, que pressupunha ampliação da

atuação estatal, a implementação do SUS esbarrou em um processo de desestatização e redefinição

do papel do Estado mais como regulador do que prestador de serviço; embora precisasse de

uma ação estatal efetiva, teve de fazer frente à flexibilização da gestão pública e a uma drástica

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