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Escritos de Saúde Coletiva

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coleção de estudos do Doutor Luiz Carlos P. Romero

1.5 - Participação e controle social nas ações de vigilância

sanitária (2004)

A vigilância sanitária sempre foi vista como “um braço distante do Sistema Único de Saúde” e

constitui um dos campos de atuação do SUS mais carentes de controle social. (1)

A recente construção do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária – que, realmente, deu um

grande desenvolvimento para esse setor – foi paradigmática desse fato, na medida em que o

processo não contou sequer com a participação do conjunto de entidades que viriam a compor o

referido sistema, quanto mais com participação popular.

Lucchese (2), em seu estudo de 2001 sobre os rumos da vigilância sanitária no Brasil, conclui

que a nova agência [a Anvisa] e o novo Sistema, apesar do longo período de gestação, nasceram

em ambiente de escasso debate técnico e político, exatamente o que poderia tornar o processo

decisório mais sensível ao controle social.

A falta de espaço para a participação social no processo de construção e formalização do Sistema

Nacional de Vigilância Sanitária – e, posteriormente, na sua operacionalização –, no entanto,

não decorre meramente de uma concepção antidemocrática. Demonstra, bem mais, a dificuldade

que temos em conceber políticas e modelos de atuação no campo da vigilância sanitária que

sejam participativos.

Se o tão desejado controle social está sendo difícil de obter em outros campos do fazer sanitário,

em relação à vigilância sanitária essa dificuldade é maior. A nosso ver, basicamente, duas

razões explicam essa dificuldade: o modelo adotado em nosso País para a organização das ações

e serviços de vigilância sanitária – o atual Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, baseado em

uma agência reguladora – e o fato de que o conceito de vigilância sanitária não faz parte do universo

cultural da grande maioria de nossa população, incluindo os trabalhadores de saúde e as

autoridades sanitárias.

Em decorrência disso, não desenvolvemos, até então, nem modelos nem processos que permitam

a identificação, a mobilização, a participação e a contribuição dos segmentos populacionais

interessados que, por sinal, nem sabem que são interessados.

O Sistema Único de Saúde tem experiências significativas de controle social. Entre outros, o

controle da aids é um exemplo de atuação bem sucedida do SUS, cujos bons resultados, inclusive,

dependeram e dependem, grandemente, da participação e do controle social.

Nesse caso, implementou-se uma política baseada na mobilização social e no fortalecimento

dos segmentos e grupos sociais mais vulneráveis e na participação de suas representações nas

instâncias de decisão política e na execução de ações.

No caso da vigilância sanitária, para começar, não conseguimos identificar sequer quem são

nossos interlocutores, isto é, quem são os segmentos sociais de quem nos interessa a participação

e o controle. Conseguimos visualizá-los, no máximo, na qualidade de consumidores de produtos

e serviços de saúde, e, de forma muito limitada, sua participação se faz por meio de representa-

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