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Escritos de Saúde Coletiva

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escritos de saúde coletiva

2.2 Ato médico e divisão do trabalho nas equipes de saúde

(2004)

A atenção à saúde – um campo de atuação profissional quase que exclusivamente do médico,

num passado não muito distante 2 , – é, hoje, necessariamente, multidisciplinar, compartilhado por

novos profissionais.

A causa dessa mudança, que trouxe novos atores para o campo da atenção à saúde, foi o grande

desenvolvimento da ciência e da tecnologia biomédicas, ocorrido, principalmente, a partir de

meados do século passado. Esse desenvolvimento não apenas alterou os instrumentos, as práticas

e os processos do trabalho em saúde como seu próprio objeto e é responsável pela crescente

especialização, no exercício da medicina.

A divisão de trabalho no âmbito dessa nova equipe de saúde está, ainda, em processo. Os

diferentes perfis de competências e habilidades dos diferentes atores vão sendo conformados

na prática cotidiana dos serviços, sob a pressão das novas tecnologias e dos novos problemas

de saúde e organizacionais. Esse compartilhamento do campo de trabalho, no entanto, não vem

sendo feito, sempre, de modo harmônico, com invasões de uns nas áreas de atuação dos outros,

na medida em que esses campos de atuação não estão perfeitamente delimitados.

Complica essa situação, o fato de que essa nova conformação da atuação profissional no campo

da saúde produziu tipos diferentes de equipes de saúde segundo a necessidade de atuar em

diferentes tipos de serviços e ações de saúde. Em decorrência dessas novas e diferentes formas

de fazer a atenção à saúde, desenvolveram-se, então, equipes diferentes tanto no que diz respeito

à composição e ao grau de interdisciplinaridade exigido, quanto ao papel e a autonomia relativa

de seus membros.

Num extremo, temos a atuação de equipes cirúrgicas cuja efetividade exige estar centrada no

médico – no caso o cirurgião –, serem altamente hierarquizadas e contarem com pequeno número

de profissionais diferentes, que atuam com elevada subordinação e pequeno grau de autonomia.

No extremo oposto, estão a as equipes de assistência ambulatorial a pacientes portadores

de doenças crônico-degenerativas, as equipes de serviços comunitários e as de saúde da família,

nas quais, ao contrário, se exige um processo de trabalho cooperativo entre os diversos – e mais

numerosos – profissionais envolvidos, onde é essencial a contribuição das diferentes formas de

ver o paciente, e nas quais a hierarquia e a subordinação, quando necessárias, são determinada,

não a priori, mas pela natureza do problema assistencial.

2 Até bem avançado o século XIX, físicos, cirurgiões, boticários e parteiras eram os únicos ‘profissionais’ envolvidos

no cuidado dos doentes, num conjunto variado e heteróclito de praticantes – bruxos, ervateiros, curandeiros,

padres – que, em verdade, eram a quem acorria a grande maioria das pessoas em vista do pequeno número daqueles

profissionais, do alto custo cobrado por eles e porque, comparada à dos praticantes ‘leigos’, a tecnologia dos

‘profissionais’ era, na maior parte dos casos, igualmente eficaz e mais agressiva.

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