12.04.2013 Views

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Os conceitos metafísicos de Rousseau formam o centro não muito coerente de seu<br />

sistema político. Eles abrem caminho para a visão hegeliana do Estado como entidade ética<br />

central e para a teoria marxista da alienação. Isso representa a imanentização integral da<br />

existência humana, inspirando o que tem sido chamado de humanismo ateísta moderno. As<br />

consequências dessa pseudo-teologia é que a liberdade, considerada como pura liberdade do<br />

mal, só pode encontrar sua perfeita concretização na obediência ao "milagre" da "grande<br />

alma do legislador" que é intérprete da Vontade Geral. Devemos concordar, segundo creio,<br />

com o professor Sérgio Cotta que, em suas análises, relaciona o desenvolvimento do<br />

pensamento político de Rousseau com suas convicções religiosas. Cotta chama a atenção<br />

para a consequência de tais princípios de submissão consciente ao grupo, no que diz<br />

respeito aos fenômenos recentes de lavagem cerebral, propaganda maciça, confissões<br />

públicas de culpa e outros acontecimentos semelhantes que nos têm horrorizado em nossa<br />

própria época.<br />

Quando Rousseau escreveu "a consciência nunca nos engana... O que sinto ser<br />

correto é correto, e o que sinto ser falso é falso", ele pretendeu combater o "dogmatismo" da<br />

Igreja. Na realidade, estava lançando o alicerce de um subjetivismo moral que constitui o<br />

mais secreto e peçonhento veneno do romantismo político. Mesmo ao proclamar e<br />

influenciar o renascimento do sentimento religioso, estava Rousseau, em sua crítica à<br />

Igreja, contribuindo mais que os materialistas e ateus como Helvetius e Diderot para o<br />

ataque ao Cristianismo. Seu vício de superbia, sua negação do pecado original, até mesmo<br />

suas falsas pretensões como advogado do amor e elogiador de Cristo constituíam um perigo<br />

bem mais sutil para a Igreja do que as imprecações de um Voltaire. Na realidade, não foi<br />

Marx mas Rousseau que, pela primeira vez, propôs a doutrina segundo a qual, através da<br />

ação de novas instituições políticas e sociais, se poderia criar um novo meio ou ambiente<br />

social — donde também um novo homem, um homem bom e virtuoso.*<br />

* * *<br />

Também, cada vez mais, através da única porta do Eros tirânico, tentou Rousseau<br />

penetrar em sua Cidade Ideal. Mas a autonomia absoluta do sentimento, la morale sensitive<br />

que não obedece a qualquer imperativo ético racional, o despencou nas lutas histéricas<br />

consigo mesmo e com o mundo que marcaram o triste fim de sua vida. Ele acreditou então<br />

*"Celui qui ose entreprendre d'instituer un peuple doit se sentir en état de changer pour ainsi dire la nature humaine, de<br />

transformer chaque individu, qui par lui-même est un tout parfait et solitaire, en partie d'un grand tout dont cet individu reçoive<br />

en quelque sorte sa vie et son être." (no Contrato Social).<br />

89

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!