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O Dinossauro - Ordem Livre

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conduziram inexoravelmente os acontecimentos à neurose da Revolução e aos distúrbios<br />

bem mais graves que atormentam nossa própria idade.<br />

No final das contas, o rei acabou perdendo a cabeça. A guilhotina passou a ser o<br />

novo símbolo da coletividade revolucionária: um símbolo certamente romântico... Mas,<br />

logo em seguida, foi a vez de Paris, a capital (do latim caput, cabeça), de inchar e acrescer<br />

de modo patológico. Nos últimos duzentos anos, quinze vezes mudou a França de regime.<br />

Atravessou crises sérias em 1814, 1815, 1830, fevereiro e junho de 1848, 1851, 1871, 1937,<br />

1940, 1944, 1958, 1968 e 1981. A Comuna de 1871 é prova eloquente de que a oclocracia<br />

de um populacho anárquico e sedento de sangue, fácil presa de demagogos, pode fazer<br />

periclitar os destinos da nação tão seriamente quanto uma corte parasitária e corrupta. As<br />

revoluções e os distúrbios, provocados pelo grito contagioso de "às barricadas!" entre os<br />

hoi-poloi, ocorreram nas ruas estreitas da capital (antes que Haussman abrisse os grandes<br />

boulevards para facilitar o tiro de canhão) e decidiram, em dez ocasiões diferentes, do<br />

destino dos governos. Violentas oscilações abalaram a vida política do país, ora para a<br />

direita, ora para a esquerda; ora para governos pessoais autoritários, ora para a difusão do<br />

poder em assembleias ineficientes e agitadas, tão prejudiciais aos processos suaves de<br />

evolução social. Versalhes sem dúvida se havia desligado de Paris. Mas Paris<br />

frequentemente ignorou os verdadeiros sentimentos da França, e os caprichos de suas<br />

multidões arruaceiras não foram menos condenáveis do que o bon plaisir dos reis.<br />

A Revolução Francesa ofereceu um modelo e constituiu um ensaio para as<br />

rebordosas românticas que ocorreriam, daí por diante, aqui e acolá em todo o mundo.<br />

Criou-se a mística da Revolução jacobina. Exaltou-se a paixão rebelde com seus símbolos,<br />

suas bandeiras, seus hinos, seus heróis, suas crueldades e sobretudo seus líderes populistas<br />

carismáticos. Depois do assassínio ritual do monarca — a decapitação pela guilhotina da<br />

imagem do Logos — o gesto simbólico seguinte foi levado a efeito pelos Jacobinos<br />

entusiastas que promoveram uma meretriz entre os sans-culottes e entronizaram-na em<br />

Notre-Dame — convenientemente transformada, para a ocasião, em templo ateísta — como<br />

personificação da Deusa Razão. Uma colheita grotesca, sem dúvida, para as sementes do<br />

método cartesiano! A alma francesa foi então eroticamente possuída por um incubo<br />

proxeneta que havia substituído o Logos sem cabeça: o incubo da ideologia socialestatizante.<br />

Em seguida, à mercê dos caprichos desse demônio obsceno, foi escravizada por<br />

uma nova manifestação ressurgida da Razão imanente, Napoleão — que a grandiloquência<br />

de Hegel proclamou "a alma do mundo" (Weltgeist)! Um pequeno intervalo neoclássico na<br />

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