12.04.2013 Views

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Peyrefitte nota que a "inversão de sentido" no crescimento da França coincide com<br />

o estabelecimento da centralização e do dirigismo. "Colbert perseguiu uma quimera<br />

comparável à dos Jesuítas no Paraguai ou das sociedades planificadas do século XX: tornar<br />

próspero o reino ao transformar cada indivíduo em executante dócil das decisões<br />

econômicas racionalmente alcançadas na cúpula. No que diz respeito à docilidade,<br />

conseguiu o que queria. Mas não no plano da prosperidade".<br />

E acrescenta: "De uma nação forte, o Estado poderia haver tirado sua força; o<br />

Estado, a si recolhendo toda a força, deixará débil a nação"... Ele resume com ironia o<br />

resultado: "Ontem, um rei se considerava o próprio Estado (L'État c'est moi); hoje é o<br />

Estado que rei se considera." O diagnóstico do ex-ministro incrimina o estatismo<br />

intervencionista das teorias mercantilistas e absolutistas, alucinadas pela ideia de que o<br />

despotismo dos decretos é capaz de resolver todos os problemas da nação. Mas a França<br />

perde sua posição de vanguarda, primeiro para a Inglaterra, e depois sucessivamente para os<br />

demais países da Europa ocidental e países ultramarinos de língua inglesa que deram<br />

confiança à iniciativa privada. Colbert é uma espécie de primeiro modelo do<br />

superburocrata. O Leviatã absolutista que Luís XIV impusera sobre a França incluía esse<br />

funcionário típico que trabalhava dezesseis horas por dia, que era tão frio, inflexível e cruel<br />

que madame de Sévigné o apelidara "Le Nord", e que esfregava as mãos de volúpia quando<br />

chegava ao escritório, às 5,30 da madrugada, e encontrava a mesa apinhada de processos<br />

para despachar. De fato, tudo despachava. Despachava também para as galeras os<br />

comerciantes que ousassem importar do exterior, em concorrência às manufaturas estatais,<br />

tecidos de algodão. E tudo regulamentava, disciplinava, obstruía, ordenava, coibia com suas<br />

famosas Ordonnances. E multiplicava os decretos criando empresas públicas, "manufaturas<br />

reais", "tecelagens reais", "forjas reais", "arsenais reais" e milhares de outras "companhias<br />

reais", sempre na crença de que cabia ao Estado incentivar a indústria. A iniciativa privada<br />

era a priori suspeita. A economia era desenhada geometricamente, à la française como os<br />

jardins, mas o resultado final é que em todos os terrenos a França começa a ficar para trás já<br />

a partir de 1800. Uma por uma, as repúblicas e monarquias capitalistas de religião<br />

protestante, com exceção da Bélgica, ultrapassam os índices de produtividade e de renda<br />

ostentados pela França. Peyrefitte é inexorável em sua crítica de tendências que,<br />

infelizmente, nos são por demais familiares, em nosso próprio país que da França tudo<br />

copia. Mas saberá alguém reconhecer a lição aqui mesmo?<br />

Ao terminar seu argumento nessa parte da obra, cita Pyrefitte as palavras dirigidas<br />

por Fénélon ao Rei Sol em 1694: "Aqueles que vos educaram", diz o grande bispo e<br />

229

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!