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O Dinossauro - Ordem Livre

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eputação ambivalente de Rousseau pela sua instabilidade emocional, sua superficialidade<br />

como pensador, sua frivolidade e a incoerência caótica que distingue os seus ensaios.<br />

Huizinga observa: "Todo esse palavreado audacioso contradiz frontalmente outros trechos<br />

do mesmo livro. É mais um exemplo dessa irresponsabilidade do escritor que deposita, no<br />

papel, qualquer pensamento que porventura lhe passe pela cabeça e qualquer sentimento<br />

que, por um momento fugidio, lhe domine o coração; e não importa se o que conta ao leitor,<br />

no fim da página, não faz pé nem cabeça com o que acabou de dizer no alto da mesma". Na<br />

verdade, em sua obra, o sonho se mistura com a lógica. Conforme o sentimento do<br />

momento, temos a impressão de ouvir um revolucionário ou um reacionário, um<br />

nacionalista ou um cosmopolita, um individualista ou um coletivista, um cristão ou um<br />

ateu, um liberal ou um totalitário. Sempre confessou o próprio Rousseau que permanece "o<br />

mais agudo conflito de interpretações" sobre seu pensamento. Donde a diversidade<br />

caleidoscópica de sua influência. O dr. Johnson talvez tenha razão quando observou que<br />

"um homem que escreve tão bem coisas tão sem sentido, deve ser que o que escreve não faz<br />

mesmo sentido"... Ou quiçá mais certo esteja Jules Lemaître ao considerar a obra de<br />

Rousseau "uma das mais fortes provas jamais oferecidas da estupidez humana". François<br />

Mauriac, de qualquer forma, admite que "a era moderna está enraizada em suas mentiras ...<br />

demorando um século e meio para que seu veneno tivesse efeito". Entretanto, Jean-Marie<br />

Benoist, o jovem liberal-conservador francês, pede desculpas por ainda o admirar...<br />

Como São Paulo, mas sem a genialidade de seus meios e propósitos, Rousseau<br />

quis ser todas as coisas para todos os homens. Com uma versatilidade mistificadora, ele<br />

revelou sobretudo o talento para épater le bourgeois: lançava um petardo na praça pública<br />

e, quando a multidão se congregava, assombrada, satisfazia-se em apresentar-lhe um<br />

sermão. Na maior parte das vezes indigesto, confuso e anódino.<br />

Podemos deduzir de suas numerosas autobiografias, nas quais se excedeu em<br />

confissões mórbidas, de natureza dúbia, que sofria agudamente de humores cambiantes e<br />

dominadores. Criou assim uma atmosfera peculiar de farisaísmo, que consistia em justificar<br />

suas faltas mais óbvias pelo calor e profundidade de um coração generoso. Esse coração era<br />

tal que "me dispensa de ser bem educado" — declarou certa vez. Na verdade, todo o<br />

trabalho de Rousseau pode ser compreendido como uma tentativa egomaníaca de<br />

racionalizar e exprimir logicamente as experiências de típico puer aeternus, de eterno<br />

adolescente emocional. Ele confessava, aliás: "sob muitas facetas, sou ainda uma criança"...<br />

uma criança narcisista e malcriada, certamente sim.<br />

Em flagrante contraste e desobediência à velha tradição clássica-estoica, reforçada<br />

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