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O Dinossauro - Ordem Livre

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não for muito fácil de perdoar, não terá gente no Brasil''... não se pode de fato exigir o<br />

cumprimento da lei, a ordem no serviço, a presteza do despacho, a pontualidade no horário,<br />

a cortesia na janelinha, o método no trabalho, a responsabilidade na decisão — com a praia<br />

ou a piscina tão perto, as sereias seminuas tão atraentes, as ondas tão refrescantes. Aparece<br />

logo, dentro de nós mesmos, um fantasminha maroto, evocado como um ectoplasma pela<br />

mediunidade da Maria Candelária, que gritará como o fez Macunaíma logo ao nascer: "Ai,<br />

que preguiça! Diabo que leve quem trabalha"...<br />

Desde muito cedo foi o governo do Brasil bom-moço e complacente, na terra<br />

abençoada do "homem bom". Há que perdoar o crime, abafar o escândalo, fechar os olhos<br />

perante a irresponsabilidade, esquecer o deslize, readmitir os demitidos, anistiar os<br />

terroristas, deixar aberto o ponto, não perturbar o boçal nem sacudir o indolente. Não se<br />

deve punir, aposentar, demitir, pois isso é antipático, impopular. Mais vale nomear,<br />

promover, conceder férias e licenças, aumentar os vencimentos e outorgar novas<br />

gratificações: é mais simpático, gera popularidade e atrai o voto. O homem cordial anseia<br />

pela popularidade e exala simpatia. O melhor que há a fazer na repartição é esperar<br />

pacientemente em ótimo bate-papo. Se o serviço público é composto de 50% pelo menos de<br />

funcionários que não fazem absolutamente nada, a não ser obter seu sustento mensal da<br />

prodigalidade de um Tesouro inflacionário e da tolerância de uma administração<br />

munificente — não nos devemos preocupar porque Deus é brasileiro e vai resolver todos os<br />

problemas!<br />

* * *<br />

Para ilustrar os problemas da burocracia em nossa terra, me permito, com a devida<br />

vênia dos leitores condescendentes, relembrar um dos períodos mais lamentáveis de minha<br />

carreira burocrática, que consistiu na passagem de pouco mais de dois anos pelo Ministério<br />

da Educação e Cultura (1971-73). Qualquer pessoa que tenha transitado pelo serviço<br />

público terá sofrido experiências semelhantes ou piores. Meu relato visa apenas instruir as<br />

verdadeiras circunstâncias amiúde enfrentadas numa repartição que, seja dito a bem da<br />

verdade, é uma das mais mediocremente organizadas da administração federal. Comecei<br />

minhas atividades no MEC ostentando o título de presidente da Comissão de Relações<br />

Internacionais. Era missão da mesma Comissão assegurar os contatos com a UNESCO e<br />

outros organismos internacionais: hoje em dia quase todos os ministérios, em Brasília,<br />

possuem órgãos paralelos, frequentemente ocupados por diplomatas e destinados a atender<br />

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