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O Dinossauro - Ordem Livre

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elemento religioso na consolidação dos regimes políticos por ele estabelecidos, deixa ver<br />

claramente essa influência." Ricardo Vélez argumenta com o parecer de German<br />

Arciniegas. "As palavras com que Bolívar arengava seus soldados revelam essa convicção<br />

mística que o empolgava: 'A liberdade da América é a esperança do universo' "... Mas<br />

Vélez lembra também que o ideário liberal que se apossou dos intelectuais latinoamericanos,<br />

naquele primeiro período decisivo de nossa história, se inspirou<br />

preferencialmente na chamada "retórica utópico-democrática", conforme fora chamada por<br />

Thomas Jefferson. Esta, segundo Vélez, originou-se na obra de Thomas Paine (t 1809).<br />

Paine pode ser considerado o principal criador da corrente "liberal" de esquerda americana<br />

com sua ênfase nos direitos do homem e seu pendor anarquista, sem muita consideração à<br />

necessidade de fundamentar solidamente a liberdade na ordem legal e na autoridade moral.<br />

O messianismo retórico de Paine teve efeitos perniciosos porque, inclusive, na genealogia<br />

das ideias, se transmitiu através de Saint-Simon e de Auguste Comte, como também<br />

salienta Ricardo Vélez.<br />

É interessante apontar para o fato de que as ideias revolucionárias no Brasil não<br />

somente se transplantaram sob a forma que lhes dera Rousseau (com pouca ou quase<br />

nenhuma influência de Montesquieu ou do anticlericalismo de Voltaire ou mesmo de<br />

Locke), mas encontraram acolhida no clero. "As teorias de Rousseau, escreve Octávio<br />

Tarquínio, chegaram a fundamentar pastorais da Igreja, como a dos governadores do<br />

bispado, os 'patriotas' ... que sustentaram em 1817 não ser a revolução republicana contrária<br />

à religião, visto como os direitos dos reis portugueses, baseando-se num contrato bilateral,<br />

não mais subsistiam porque, faltando eles às condições estipuladas, haviam desligado os<br />

povos da lealdade jurada." Nestor Duarte, citado por Vicente Barretto no capítulo<br />

"Primórdios do Liberalismo" da obra Evolução do pensamento político brasileiro, que vale<br />

a pena consultar a esse propósito, assinala que "o padre foi, assim, em toda a sociedade<br />

colonial como no Império, um desajustado dentro da organização política. Não era, como<br />

não foi, uma força conservadora, antes o primeiro recruta do espírito revolucionário, a<br />

agitar ou a dirigir, como inconfidente e cabecilha, todos os nossos motins e reações<br />

políticas." É evidente que a referência é feita a clérigos individuais, frei Caneca por<br />

exemplo. Não envolve a hierarquia da Igreja a qual, naquela época, como ia provar por<br />

ocasião da Questão Religiosa ao final do Império e ao contrário do que é hoje, se revelava<br />

profundamente reacionária e inimiga do liberalismo. No momento, porém, o pequeno clero<br />

lera e se embriagara com o Vicaire Savoyard, como se droga hoje com as Teses sobre<br />

Feuerbach de Marx — sem entender em que proporção tais ideias subvertem totalmente a<br />

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