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O Dinossauro - Ordem Livre

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ejeitar toda ação que empregue meios moralmente perigosos — em teoria! No mundo das<br />

realidades, de um modo geral, encontramos a experiência sempre registrada que aquele que<br />

adere à ética dos fins últimos se transforma, subitamente, num profeta quiliástico. Aquele,<br />

por exemplo, que acaba de pregar 'o amor contra a violência', "apela agora para o uso da<br />

força e para o último ato violento que então conduzirá a um estado de coisas no qual toda<br />

violência será aniquilada". Os que propõem uma ética de fins últimos são os intelectuais<br />

nefelibáticos que não podem, em suma, resistir à irracionalidade ética do mundo. Weber<br />

lembra aí a cena do Grande Inquisidor, de Dostoievsky, onde o problema é discutido de<br />

maneira aflitiva. "Se alguém faz alguma concessão ao princípio de que o fim justifica os<br />

meios, não é possível juntar a ética de fins últimos e a ética de responsabilidade sob um<br />

mesmo teto ou decretar, eticamente, que fim deve justificar que meio".<br />

Contrastante assim com a anterior, a ética da responsabilidade reconhece a<br />

irracionalidade essencial do mundo, mas sugere uma conduta da maneira a mais racional<br />

possível na conjuntura dada. Diríamos então, completando o pensamento de Weber, que é a<br />

ética pragmática talhada especialmente para o uso do administrador, burocrata ou<br />

tecnocrata, responsável pela conduta desse mecanismo altamente complexo, problemático e<br />

frio que é a sociedade industrial moderna. Isso não quer dizer, evidentemente, que nem<br />

deva o intelectual ser irresponsável, nem o burocrata desprovido de convicções e princípios.<br />

Trata-se de uma questão de ênfase em princípios diferentes.<br />

A liderança "espiritual" da intelligentsia, em tensão criadora com o poder<br />

tecnoburocrático da classe dirigente, me parece constituir a fórmula que tenderá a impor-se<br />

na sociedade liberal futura. É evidente, no nosso mundo atual, que as coisas não se passam<br />

de maneira tão simples. O perigo da burocracia é que facilmente se corrompe na frieza cruel<br />

das considerações pragmáticas — das estatísticas, programas, organogramas, planos,<br />

projetos, orçamentos, serviços — ao passo que a intelectualidade é sempre seduzida pela<br />

peçonha da ideologia, um complexo de ideias políticas fortemente colorido de<br />

ressentimento, inveja e outras emoções vingativas e rebeldes. Esclareço, porém, que coloco<br />

os dois tipos de ordens sociais aqui sugeridos não como grupos estanques hostis, mas antes<br />

como pólos de tensão.<br />

* * *<br />

O problema dos intelectuais está, em suma, na dependência de sua reinspiração por<br />

valores morais mais elevados. Uma nova ética dos intelectuais comportaria padrões<br />

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