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O Dinossauro - Ordem Livre

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esplêndido na Inglaterra, graças às suas duas revoluções do século XVII. Especialmente a<br />

segunda, a Revolução Gloriosa de 1688, inspirada em sentimentos religiosos calvinistas e<br />

nas teorias de Locke.<br />

O mesmo processo "continental" de despotismo monárquico patrimonialista, que<br />

distingue a evolução dos países da Europa ocidental do modelo insular britânico, se registra<br />

na Espanha e em Portugal. Muito antes de qualquer outra nação europeia, Portugal, sob o<br />

regime da dinastia de Avis, já se unificara, já se lançara à aventura da conquista de um<br />

Império ultramarino e já registrara o enfraquecimento irremediável da aristocracia feudal. A<br />

força relativa do Estado português, no momento da colonização do Brasil, explicaria a<br />

tradição autoritária e centralizadora de nosso estatismo patrimonialista e a superficialidade<br />

correspondente do pensamento liberal em nossa terra.<br />

Quais as origens exatas do Estado forte no Brasil, na história das ideias? Não foi<br />

nossa intenção, nesta obra, resolver o problema.* Limitamo-nos a analisar a aplicação do<br />

modelo weberiano de autoridade patrimonialista ao caso brasileiro. Admito várias<br />

explicações. Seriam todas elas concorrentes e sujeitas à condição primária, sobre a qual<br />

insisto, da existência de um atraso, disritmia ou decalagem no desenvolvimento brasileiro,<br />

em virtude do qual nos colocamos no estágio em que se encontrava a Europa, como<br />

"sociedade exemplar" que é para nossa cultura, na idade barroca ou Idade da Razão.<br />

Sofremos a síndrome de Eterno Barroco... As explicações implicam a herança romana (o<br />

Mal Latino) e as consequências morais da Contra-Reforma; o atavismo mourisco (o<br />

despotismo oriental); o impacto traumático de Pombal (o despotismo esclarecido<br />

modernizante); o autoritarismo positivista da Primeira República com pretensões<br />

"científicas" (dos chimangos de Júlio de Castilhos e Getúlio Vargas); a tradição do poder<br />

moderador, de origem imperial e transmitida pelas Forças Armadas; e, finalmente, o<br />

socialismo marxista, com ênfase no nacionalismo terceiro-mundista, mais recentemente.<br />

Ora, depois de um primeiro florescimento medieval do liberalismo graças à<br />

agitação rebelde da aristocracia feudal (agitação que justamente não se registrou em<br />

Portugal) e à conquista de foros de direitos e liberdade por uma série de burgos ou cidades<br />

da Itália, Alemanha, Flandres, Suíça e península ibérica, a tendência geral no continente no<br />

século XVIII foi no sentido de um reforço da autoridade monárquica. O Estado burocrático<br />

moderno foi alimentado pela dialética do Racionalismo e do Romantismo. Friedrich Hayek<br />

(em New Studies in Philosophy, Politics, Economics and the History of Ideas) refere-se às<br />

duas correntes liberais então divergentes que se destacam nessa época. Em oposição ao<br />

* A obra Evolução do pensamento político brasileiro na Coleção Tocqueville, visa precisamente analisar essa questão.<br />

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