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O Dinossauro - Ordem Livre

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Muito claramente, durante a Revolução Francesa e o período da ditadura militar<br />

napoleônica, o idealismo de 1789, com a proclamação dos direitos do homem e o<br />

extraordinário ímpeto de libertação, foi posto a perder pelo enfrentamento nacional da<br />

França ao resto da Europa coligada. O Terror de 93 e a ditadura de Robespierre já se<br />

haviam justificado pela necessidade de salvação nacional: salus populi suprema lex... O<br />

liberalismo só se desenvolveu plenamente no século XIX em nações que, como os<br />

Escandinavos, os Neerlandeses, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, estavam protegidas da<br />

agressividade de seus vizinhos. Poder-se-ia mesmo argumentar que o Brasil, na época do<br />

Império, se permitiu um arremedo de regime liberal parlamentarista em virtude do<br />

sentimento de relativa segurança que lhe era granjeado pela proteção tácita da esquadra<br />

inglesa e pela proclamação teórica da Doutrina de Monroe: não havia necessidade de<br />

fortalecer militarmente o Estado enquanto não nos ameaçasse qualquer imperialismo<br />

colonial europeu, nem se fizesse sentir qualquer veleidade descentralizadora de uma<br />

aristocracia feudal nativa. Nas nações europeias, ao contrário, em permanente conflito umas<br />

com as outras, assim como entre os países da América espanhola pelos mesmos motivos, o<br />

imperativo hobbesiano de segurança militar também contribuiu para incentivar o<br />

progressivo fortalecimento do Estado.<br />

O processo de crescimento do Estado centralizador e burocrático estava assim<br />

prefigurado no absolutismo dos Bourbons. O primeiro modelo, que se poderia realmente<br />

considerar "moderno", do Estado absolutista é o da França de Luís XIV. O Roi Soleil, entre<br />

outras coisas, inaugurou o que hoje chamamos o "culto da personalidade" e a santificação<br />

dos ritos do Estado. O "déspota esclarecido" dispunha de grandes ministros para assessorálo.<br />

Colbert será talvez o primeiro e mais formidável burocrata. A Revolução francesa<br />

transformou a França, liquidou com o poder da aristocracia, mas não deixou de reforçar o<br />

Estado e sua classe privilegiada de administradores. Napoleão seria a figura-símbolo, a<br />

personalidade-chave na transição entre o absolutismo monárquico da idade barroca e o<br />

totalitarismo do século XX. Imitador que é de Júlio César, a figura correspondente na Idade<br />

Antiga, Bonaparte é o último déspota coroado na tradição monárquica europeia e<br />

demonstra, ao mesmo tempo, o carisma protofascista do novo tipo de liderança populista<br />

cesariana que surge no século XX. Filho da revolução e genro dos Habsburgos, o imperador<br />

inaugura a ideologia da sociedade de massas.<br />

O florescimento esplendoroso do Estado absolutista na Europa, como herdeiro das<br />

concepções antiliberais, controladoras do pensamento e oriundas da Contra-Reforma, se<br />

coloca assim no momento exato em que o liberalismo se assegura um futuro igualmente<br />

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