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O Dinossauro - Ordem Livre

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asileiro, porém sem os grandes contrastes ofensivos como os que existem entre São Paulo<br />

e o Nordeste, ou entre a avenida Atlântica e a favela da Rocinha. A revolução mexicana tem<br />

mais de setenta anos e não resolveu os problemas sociais do país. Mas continua sendo um<br />

paradigma para os economistas de meia-tigela que, desgostosos com nosso próprio processo<br />

pseudocapitalista, querem nos afundar ainda mais na estatização.<br />

Quero aqui me referir a um dos ensaios de Octávio Paz, El Ogro filantrópico. Num<br />

dos capítulos dessa obra, estuda o grande poeta, crítico e ensaísta a fisionomia peculiar do<br />

Estado mexicano, oferecendo-nos sugestões que confirmam muitos aspectos de nossa<br />

própria tese sobre a etiologia do <strong>Dinossauro</strong> no Mal Latino. É com satisfação que constato a<br />

convergência de suas opiniões com as que tenho defendido no correr dos anos. Inicia Paz<br />

seu discurso assinalando que tanto os liberais quanto os marxistas acreditavam, outrora,<br />

estar o Estado destinado a desaparecer. Os liberais propunham a redução imediata do poder<br />

interventor do governo pela doutrina do laissez-faire e a proposta de máxima liberdade<br />

individual (liberdade de expressão, liberdade de reunião, liberdade de trânsito, liberdade de<br />

empresa econômica, etc). Os marxistas anunciavam a liquidação do Estado após um curto<br />

período de ditadura do proletariado, destinado a suprimir a burguesia e, com ela, a luta de<br />

classes. As esperanças e profecias se evaporaram no século XX, quando se revelou o Estado<br />

como uma força bem mais poderosa e mais terrível do que os velhos tiranos e déspotas<br />

monárquicos do passado. "Um amo sem rosto, desalmado e trabalhando não como um<br />

demônio mas como uma máquina fria". No Estado moderno, o mal conquista a<br />

universalidade e se apresenta como a máscara do progresso. Paz cita aí o veredicto de<br />

Hannah Arendt sobre a "banalidade do mal" — uma lembrança que se refere à análise de<br />

Arendt quanto à personalidade de Eichmann.<br />

O autor mexicano concorda com nosso ponto de vista de que o Estado latinoamericano<br />

é herdeiro do regime patrimonial ibérico — sendo por outro lado o palanque da<br />

modernização. Sua realidade é ambígua, contraditória e fascinante. Paz acrescenta que, não<br />

obstante a onipresença e onipotência do Estado no século XX, só recentemente renasceu,<br />

em França, na Alemanha e nos Estados Unidos a crítica ao Estado. Preocupados com a<br />

temática da dependência e do subdesenvolvimento, os estudiosos latino-americanos não se<br />

debruçaram ainda sobre o problema do Estado. Contudo, o ensaísta está combatendo no<br />

México por uma causa que o nosso próprio grupo da Sociedade Tocqueville procura iniciar<br />

no Brasil: a crítica neoliberal ou neoconservadora ao <strong>Dinossauro</strong>, ou seja ao "ogro<br />

filantrópico". O ilustre mexicano faz referências diretas a Max Weber sobre o qual sustenta<br />

seu arrazoado quanto ao papel hegemônico da autoridade estatal. Para tal, traça um paralelo<br />

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