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O Dinossauro - Ordem Livre

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do caráter nacional brasileiro, empreendida no livro Em berço esplêndido, tentei assim<br />

também a ele aplicar as categorias nietzscheanas do Apolíneo e do Dionisíaco como<br />

fórmulas psicológicas conflitantes cuja conciliação se impõe, no Brasil, como condição da<br />

emergência de um nível superior de cultura.<br />

A glorificação de Dionísio por Nietzsche talvez não possa ser equacionada ao<br />

Romantismo. O Romantismo foi por ele assaltado com aspereza desenfreada nas pessoas de<br />

Rousseau e de Wagner. Mas é possível que esteja Jung pensando na revolução romântica<br />

quando declara que "os impulsos represados no homem civilizado são terrivelmente<br />

destruidores e muito mais perigosos do que os impulsos do homem primitivo". O horror da<br />

inimizade entre os fantasmas de Apoio e de Dionísio — uma querela que os gregos<br />

conseguiram pouco a pouco superar, à medida que alcançaram seu supremo triunfo cultural<br />

— constitui, certamente, uma das maneiras de descrever o mal-estar espiritual da<br />

civilização. Jung oferece-nos uma chave para a compreensão da extraordinária intuição de<br />

Nietzsche. O homem ocidental ainda requer uma conciliação da antítese — antítese que<br />

aqui contemplamos sob a perspectiva do antagonismo entre o cérebro racionalista do frio<br />

classicismo apolíneo e o coração ardente no pathos do romantismo revolucionário<br />

dionisíaco.<br />

Há ainda um lado importante nesta questão: quando trata extensamente de seus<br />

tipos psicológicos, salienta Jung o fato de que o tipo de Sentimento, o tipo afetivo<br />

verdadeiro, é geralmente encontradiço entre as mulheres. Ele declara, sem sombra de<br />

dúvida, que a maior parte dos extravertidos de sentimento que conheceu eram mulheres.<br />

Ora, possuía o psicólogo uma experiência relativamente limitada de pacientes de origem<br />

latina — italianos, espanhóis, outros nacionais da Europa mediterrânica e sul-americanos.<br />

Houvesse conhecido essas pessoas com maior intimidade, certamente teria revisto sua<br />

opinião. O fato é que os latinos e os meridionais de um modo geral (árabes, africanos,<br />

iranianos, hindus) e digo, homens latinos e meridionais são, segundo creio, tipos geralmente<br />

afetivos. São homens conscientemente submissos às regras e humores de sua ânima. Não<br />

são prometeanos, são epimeteanos. Eles ouvem o conselho de Rousseau: "Eu sempre sinto<br />

antes de pensar. Sou o animal mais sensível da terra"... Ouvem igualmente o de Goethe:<br />

Gefühl ist Alies...<br />

Podereis objetar, naturalmente, que o movimento romântico pouco tem a ver com<br />

a classificação de tipos psicológicos e que, além disso, o Romantismo não se limitou à<br />

Europa meridional. Na verdade, Mme. de Staël, inspirada talvez por Benjamin Constant e<br />

os irmãos Schlegel, sugeriu que o Romantismo era, mais propriamente, uma tendência<br />

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