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O Dinossauro - Ordem Livre

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São aquelas virtudes também que, curiosamente, invadem a outros títulos todo o mundo<br />

não-europeu que, consciente ou inconscientemente, lhe procura imitar o modelo.<br />

O nosso desafio é precisamente o de conciliar as exigências do desenvolvimento<br />

em termos racionais (a Entzauberung der Welt), conforme as leis draconianas da economia<br />

moderna, com o mínimo de abandono dos lados aprazíveis, mais cordiais, mais calorosos e<br />

simpáticos de nossa forma de viver. Conciliar, em suma, a atividade da Avenida Paulista<br />

com o lazer da praia do Pepino... Se acreditamos que, por uma lei fatal de psicologia, tudo<br />

que na consciência se alevanta, de modo unilateral, alto demais ou exclusivo, é compensado<br />

pela mobilização inconsciente (na Sombra) de conteúdos de natureza antitética, inferiores e<br />

traiçoeiros; e se sabemos que, historicamente, tal fenômeno se registrou na Europa após a<br />

idade da Razão, então não ficaremos surpreendidos com as contradições de nossa situação.<br />

Trata-se de um desafio monstruoso — e não estou absolutamente seguro que o saibamos<br />

enfrentar.<br />

Como Descartes, devemos começar duvidando (de omnibus dubitandum).<br />

Duvidando de nossa vocação desenvolvimentista e de nossa capacidade de organização e<br />

institucionalização política. Como Bacon, devemos também derrubar os ídolos, no início de<br />

nossa tarefa. É a partir de um saudável e construtivo ceticismo analítico que podemos partir<br />

para a aceitação de nossas transformações; para a consolidação do planejamento sereno<br />

como método administrativo (sem prejuízo da iniciativa privada); para a criação de uma<br />

verdadeira ciência política — ciência que, talvez de todas, seja aquela de que mais<br />

careçamos; e para a redução do poder do Estado num regime de verdadeiro liberalismo<br />

conservador.<br />

Descartes acreditava que l'âme pense toujours...Hélàs! Lançou a psicologia<br />

moderna dúvidas atrozes sobre esse triunfante asserto da Razão, ao descobrir as<br />

configurações sombrias e abissais da alma humana cuja liberdade de raciocínio é, afinal,<br />

muito aleatória. A filosofia existencial estremeceu ainda mais fortemente a correlação e<br />

harmonia necessárias, propostas pelo cartesianismo, entre a Razão, como sistema de ideias<br />

claras e definidas, e o Mundo, como totalidade dos seres criados. Essa correlação só é<br />

admissível se levarmos em consideração os mistérios insondáveis e os transcendentes<br />

desígnios de Deus.<br />

Na realidade, há muita gente que não pensa, gente que pensa raramente. Ou gente<br />

que pensa de maneira defeituosa. A política é o terreno eminente das paixões, dos mitos e<br />

do carisma quando pouco se pensa. É o reino maravilhoso do irracional, do emocional e do<br />

imprevisto. Nela não se pensa, senão na oportunidade. Nela a força atuante é a dos<br />

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