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O Dinossauro - Ordem Livre

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Hegel. Lehman insiste nas consequências igualmente relevantes do tratado De Cive,<br />

publicado por Hobbes em 1642, nove anos antes do Leviathan. Nessa obra, mais claramente<br />

ainda, rompe Hobbes com a tradição agostiniana que é essencial à concepção cristã. Na<br />

capa da edição original do Leviathan, Hobbes fez representar o "corpo místico" que se<br />

transforma em corpo civil e político: a cabeça coroada é a do soberano, o corpo é formado<br />

por uma multidão do povo, enquanto o braço direito segura uma espada e o esquerdo o<br />

báculo episcopal. Nesse ponto, recordemos que já no século XV, elogiando as leis inglesas,<br />

Sir John Fortescue propunha a transformação do símbolo do corpo místico numa imagem<br />

do reino inglês. A ideia era ominosa pois introduzia a teoria do Estado como um<br />

superorganismo, ideia que reviveu posteriormente entre os pensadores totalitários dos<br />

séculos XIX e XX, e mesmo na atualidade em algumas teorias dos chamados<br />

sociobiologistas, inclusive no mais conhecido deles, Edward Wilson, professor de Harvard.<br />

Para Pierre Legendre, em Jouir du Pouvoir, o Estado moderno nada mais é,<br />

realmente, que um grande crocodilo ou baleia faminta, cruamente localizado por Hobbes<br />

sob a alegoria bíblica. Legendre, em linguagem um tanto confusa, impenetrável mas<br />

irônica, procura psicanalisar e identificar os elementos místicos, sacralizantes, que<br />

envolvem o Estado, particularmente, na área latina, após a Contra-Reforma. O Estado<br />

"patriótico" torna-se uma "mátria", amada e cultuada como uma expressão divina ("Pátria<br />

amada, idolatrada, salve, salve"...) "O Estado sou eu", de Luís XIV, transforma-se naquele<br />

sentimento bem traduzido por um teólogo francês do século XVII, Zacharie de Lisieux: "A<br />

sabedoria do Estado relampeja fortemente no mistério da Eucaristia".<br />

A fusão entre religião e política, com a consequente ressacralização do Estado,<br />

apareceria de modo fortemente expresso no capítulo 29 do Leviatã: "...considerando que o<br />

poder espiritual disputa o direito de declarar o que é pecado, ele se arroga<br />

consequentemente o direito de declarar o que é lei, pois o pecado nada mais é que a<br />

transgressão da lei; e, além disso, o poder civil, arrogando-se o direito de declarar o que é<br />

lei, cada súdito deve obedecer a dois senhores, os quais exigirão que suas ordens sejam<br />

observadas como lei — o que é impossível".<br />

Desse arrazoado parte Hobbes para sustentar, contra a fé cristã, que o Reino de<br />

Deus nada tem a ver com a esfera espiritual mas deve ser explicado como sendo "um reino<br />

propriamente assim chamado". Ele reduz então os principais conceitos da teologia cristã a<br />

concretas dimensões terrenas. Diz que "o Reino de Deus é uma república civil onde Deus<br />

mesmo é o soberano, primeiramente por virtude de um antigo pacto, depois renovado, pelo<br />

qual Ele reina por seu vigário ou lugar-tenente"... até o dia de seu retorno, "para reinar real<br />

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