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O Dinossauro - Ordem Livre

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consciência" em que os motivos determinantes (sempre de ordem econômica) permanecem<br />

inconscientes. Assim, um burguês pensaria necessariamente como burguês e um aristocrata<br />

como aristocrata. O problema do relativismo da verdade e da correspondência entre a<br />

"estrutura" social de produção e a "superestrutura" mental tornou-se um dos principais<br />

objetos de disputa entre marxistas. Naturalmente, outras ideologias atribuem a outros<br />

motivos determinantes, inconscientes, a posição mental de cada um, eis que, para os<br />

racistas, o ariano pensaria, corretamente, como ariano e o judeu ou o negro pensariam,<br />

erradamente, como judeu ou negro. Os freudianos generalizaram essa concepção de uma<br />

motivação inconsciente, determinada pelos complexos sexuais: "A anatomia é o destino",<br />

dizia Freud. Foi realmente a psicanálise que levou o problema para o terreno da<br />

investigação científica. O intelectual gnóstico, entretanto, se considera a si próprio como<br />

escapando de tais contingências. Mesmo se de origem burguesa como foram Marx, Engels e<br />

Lenine, gozaria o intelectual gnóstico de uma "consciência verdadeira" e não se sentiria<br />

inconscientemente manobrado por seus sinistros interesses de classe que a "ciência"<br />

marxista transcende. Marx não considerava a sua própria posição como ideológica, mas<br />

"científica". Temos que esperar Lenine para ouvirmos falar em uma "ideologia" proletária.<br />

Mas, de qualquer forma, os intelectuais falam e agem como se fossem os únicos cérebros<br />

verdadeiramente "conscientes", num mundo sombrio de motivações falsas e de pulsões<br />

subliminares. Com seu irracionalismo e sua inimizade em relação a toda lógica, o<br />

intelectual procura ser uma espécie de rei-filósofo, assumindo a liderança das novas nações<br />

do Terceiro Mundo e subvertendo a sociedade. Raramente o consegue. Os grandes<br />

estadistas nunca foram ideólogos, embora se possam ocasionalmente haver revelado<br />

grandes intelectuais e às vezes formidáveis autores — César, Marco Aurélio, Frederico II,<br />

Napoleão, Jefferson, Lincoln, de Gaulle, Churchill...<br />

* * *<br />

Nos Estados Unidos, o problema da Nova Classe é recente. Nação pragmática,<br />

empenhada em seu próprio pioneirismo e desenvolvimento técnico-industrial, a América do<br />

século passado se caracterizou por um certo desdém orgulhoso e vulgar em relação a todo<br />

intelectualismo. Sua produção filosófica no terreno social e político era pobre. Não obstante<br />

a venerável tradição que herdara da Mãe-pátria inglesa, conheceu poucos pensadores de<br />

primeiro plano: James, Dewey, Santayana, Peirce. Só começamos a ouvir falar em temas de<br />

filosofia política e social no momento da Grande Depressão quando, pela primeira vez, o<br />

Destino Manifesto da grande nação sofre um ominoso eclipse. A ojeriza ao intelectual se<br />

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