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O Dinossauro - Ordem Livre

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executivos autoritários e demagogias anarquizantes, com verbosidade parlamentar<br />

desordenada; ou ainda, a crescente falta de compreensão das novas realidades gigantescas<br />

de poder que tomam forma no mundo moderno — tais os indícios político-psicológicos da<br />

neurose coletiva. Todos os "ismos" que a fértil imaginação do incubo ideológico produz,<br />

numa pletora de doutrinas, de programas e de panaceias supostamente salvadoras,<br />

oferecidas pelos charlatães da política, constituem os dogmas em nome dos quais o monstro<br />

continua a exigir sacrifícios humanos em hecatombes, como os antigos ídolos do<br />

paganismo.<br />

Entretanto, a consciência moderna está a exigir uma compreensão mais profunda<br />

da universalidade e transcendência do destino do homem neste planeta. Um novo patamar<br />

espiritual. Nesse sentido, a paz só será atingida pela superação do mito da Razão onipotente<br />

e do mito antitético do herói romântico revolucionário — os quais, filosoficamente,<br />

alimentaram o culto idolátrico do grupo (nação, raça, classe ou partido), organizado num<br />

Estado e para o Estado: Ein Volk, ein Reich, ein Führer. Essa é a tarefa que incumbe às<br />

elites dos países chamados subdesenvolvidos, a tarefa que incumbe às elites brasileiras. Na<br />

medida precisamente em que nossa ignorância, espírito folclórico e primitivismo mental<br />

nos tornam vítimas fáceis do incubo ideológico, herdado do pensamento europeu, incumbenos,<br />

num novo liberalismo responsável, sobrepujar, pela educação, a cultura moral e o<br />

conhecimento de nós mesmos, esse legado nefando.<br />

No desenho estupendo de avenidas que se irradiam a partir de um monumento<br />

central, do rond-point de l'Étoile em Paris — talvez a aplicação mais famosa e mais bem<br />

realizada do plano estelar na Cidade-Ideal, criada pelo urbanismo do Renascimento —<br />

podemos admirar a concepção da Glória, tão amada por Luís XIV e tão abusada por<br />

Napoleão. A figuração plástica, em tamanho e beleza, não parece ter paralelo em todo o<br />

mundo. É, pois, natural que o herdeiro de Luís XIV e Napoleão, de Gaulle, tenha tido seu<br />

nome honrado na famosa praça.<br />

É verdade que o Arco de Triunfo napoleônico não é um quarto de dormir, nem<br />

qualquer metáfora da mesma natureza. O Arco é um símbolo feminino e celebra a glória<br />

coletiva, através da imagem abstrata da Terra-Mãe, a Pátria ou a República. As glórias<br />

militares do puer-aeternus romântico, gravadas na pedra, consagram a Mãe ideal desse<br />

Euphorion, concebido com tanto amor e tantas esperanças primaveris. Que o centro espacial<br />

dessa estupenda Mandala parisiense seja, presentemente, ocupada pelo túmulo do Soldado<br />

Desconhecido, eis o que permanece como um pungente e significativo epitáfio para essa<br />

tragédia da alma ocidental.<br />

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