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O Dinossauro - Ordem Livre

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alouçado pelo vento quando não profundamente enraizada na experiência transcendente da<br />

Fé.<br />

Citado por Pascal, ensinava Sto. Agostinho existirem, escondidos em cada homem,<br />

uma serpente, uma Eva e um Adão. A serpente representa nossos sentidos e nossa natureza,<br />

que nos induzem em tentação; a Eva é o Eros, o apetite concupiscível e o fervor emocional;<br />

Adão personaliza a Razão — a primeira frequentemente desejando, mas somente o<br />

segundo, por força de seu consentimento, deixando que o pecado seja consumado.<br />

Malebranche costumava distinguir entre "o conhecimento pela ideia clara e o<br />

conhecimento pelo sentimento interior", esperando com otimismo descobrir uma solução<br />

moral nesse difícil antagonismo entre o lógico e o erótico. Mas quando Madame de Staël,<br />

falando como uma mulher de imensa inteligência e ardor, aspirava encontrar no pensamento<br />

um "asilo contra os tormentos do coração", estava evidentemente se defrontrando com um<br />

mal-entendido que intensificava a tensão dos opostos, acarretando esse mal-estar, essa<br />

nostalgia, essa profunda saudade da harmonia perdida que iriam caracterizar a revolução<br />

romântica. Laclos, melhor informado nesse terreno, ao descrever com sombrio e cínico<br />

talento as implicações de tais liaisons dangereuses, escrevia que "a maioria dos homens<br />

preferiria até renunciar a seus prazeres, se lhes custasse a fadiga de uma reflexão"... Na<br />

verdade, num meio social estruturado sobre uma função afetiva bem diferenciada, a Razão<br />

autônoma se iria facilmente transformar num incubo ideológico pernicioso, capaz de<br />

possuir a ânima coletiva e de conduzi-la, graças a seus meios sub-reptícios, a perigosas<br />

aventuras políticas.<br />

Nos cem anos que medeiam a crise da Idade da Razão e a obra de Nietzsche, bem<br />

como nos cem anos que vão do Super-humanismo nietzscheano à época contemporânea,<br />

assistimos à rápida desagregação da ordem moral, desagregação descrita como uma<br />

"transmutação dos valores". O fenômeno francês da segunda metade do século XVIII<br />

anuncia o que aconteceu na Europa e acontece hoje em todo o Ocidente. Restif de la<br />

Bretonne glorifica a perversão. O marquês de Sade a persegue metódica e deliberadamente.<br />

Acredita ser a única maneira razoável de viver. A fúria grotesca do Terror em 1793 coroa<br />

um desencadeamento de paixões que não mais possuem um Logos para controlá-las; e de<br />

uma razão que se põe a serviço das paixões. Dizia Hume, em trecho pouco conhecido: "a<br />

razão é e deve ser somente a escrava das paixões, e nunca pode pretender qualquer outro<br />

ofício senão servi-las e obedecê-las". A filosofia idealista alemã, como manifestação<br />

gloriosa do movimento romântico, passaria a exaltar o Homem Natural. Seria uma criatura<br />

de instintos, a "besta loura", membro irracional de uma tribo guerreira — rejeitando a<br />

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