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O Dinossauro - Ordem Livre

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Ninguém aprecia o descobrimento da própria responsabilidade. Ninguém encontra<br />

prazer no próprio sofrimento ou pecado, a não ser o masoquista. E por que nos é,<br />

normalmente, difícil admitir a nossa culpabilidade por erros, destemperos e misérias<br />

sofridas é que Sócrates propôs o conhecimento de si-próprio — Gnothe seauton — como o<br />

sublime princípio de toda sabedoria. Essa sabedoria de autocrítica e exame de consciência<br />

tornou-se, através do Cristianismo, o fundamento da Filosofia Perene do Ocidente.<br />

Tomemos um caso específico para exemplificar o que afirmo. Debrucemo-nos<br />

sobre um dos problemas centrais de nossa situação coletiva conjuntural: a dívida externa.<br />

Com risco de cair em lugares-comuns, procuremos analisar os aspectos morais das altas<br />

taxas de juros que estão sendo cobradas ao Brasil. E verifiquemos se são justos os reclamos<br />

nacionalistas contra uma suposta extorsão de que estaria o Brasil sendo vítima. Falemos de<br />

usura. E ao fazê-lo, levemos em consideração o que se ouve em discursos políticos,<br />

manifestações no Congresso, artigos de jornal, entrevistas na televisão e livros de bolso,<br />

como expressão de aparente, justa e conscienciosa indignação contra os banqueiros<br />

internacionais e o arquivilão da mitologia botocuda xenófoba, o FMI! Coitado do Brasil!<br />

Pediu inocentemente emprestado alguns biliõezinhos de dólares. Queria honestamente<br />

superar o subdesenvolvimento. Pretendia celeremente debelar a pobreza. Desejava manter<br />

as altas taxas de expansão que haviam notabilizado o famoso "milagre brasileiro", e agora<br />

esses execráveis usurários nos roubam e exploram com juros extorsivos, invocando secretas<br />

e demoníacas instituições de sentido hermético, tais como a libor, o prime, o spread,<br />

fechando seu mercado em injustificado protecionismo, arruinando nosso pobre povo,<br />

coitadinho, criando recessão e desemprego, baixando o PIB, encalacrando-nos, entalandonos...<br />

Miseráveis! Foi apressadamente retirado das prateleiras bichadas o mofado Brasil,<br />

colônia de banqueiros de Gustavo Barroso. Esqueceu-se que Gustavo Barroso era<br />

comandante da milícia integralista e que seus ataques se dirigiam sobretudo contra judeus<br />

— os Rothschild, os Lazare, os Pereyre, os Goldschmidt e outros indigitados semíticos<br />

financistas sem pátria. O que vale é sua apaixonada denúncia do dinheiro cosmopolita que<br />

nos esfola. Protestemos ardentemente contra o roubo!<br />

Mas também, analisemos melhor e mais friamente o tema!<br />

A condenação da usura, ou seja, do empréstimo a juros, é antiquíssima e pode ser<br />

ocasionalmente encontrada em todas as sociedades. A tradição judeo-cristã enfatizou a<br />

proibição que a Bíblia transformou em dogma. O Salmo XV condena a usura: "Quem anda<br />

com integridade e pratica a Justiça... jura com dano próprio sem se retratar; não empresta<br />

dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente". Na Primeira Epístola a Timóteo<br />

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