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O Dinossauro - Ordem Livre

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formado pela imposição do domínio por parte de uma minoria guerreira, como ocorreu na<br />

alta Idade Média em qual ocasião a classe feudal impôs uma ordem local que, pouco a<br />

pouco, se estendeu e veio a constituir o poder monárquico de âmbito nacional? Ou terá sido<br />

o Estado o produto de um Contrato Social, por parte de cidadãos originariamente iguais e<br />

livres? As duas explicações são válidas e não necessariamente contraditórias. Em nosso país<br />

podemos encontrar as origens do Estado brasileiro na autoridade da potência colonizadora<br />

portuguesa, no domínio dos grandes senhores rurais e líderes das expedições bandeirantes<br />

que, no sertão, representaram um arremedo de aristocracia feudal. Podemos também<br />

encontrá-las no Contrato Social implícito que acolheu os imigrantes que para cá,<br />

voluntariamente, se trasladaram a partir dos meados do século XIX. índios e negros<br />

pertencem a uma parte da população que foi, originariamente, submetida por<br />

conquistadores europeus. Os imigrantes europeus, libaneses e japoneses pertencem à outra<br />

parte da população que aceitou as cláusulas implícitas do Contrato Social ao<br />

desembarcarem nos portos do país. Desde o princípio, contudo, parece certo que era do<br />

interesse dos indivíduos aqui nascidos — a qualquer raça que pertencessem — possuírem<br />

essa instituição, destinada a lhes granjear segurança e justiça, mesmo se frequentemente de<br />

modo brutal. O Estado foi feito para os indivíduos e não vice-versa.<br />

A ideia de que cabe ainda ao Estado ajudar os pobres, estimular o<br />

desenvolvimento e garantir o crescimento industrial do país é relativamente recente. É um<br />

corolário da obrigação de justiça e segurança. Data do século XVIII, é oriunda do<br />

Mercantilismo e se deduz do imperativo de igualdade surgido com a Revolução francesa.<br />

Ela precedeu e condicionou a Revolução industrial. O Mito do Estado foi poderosamente<br />

assistido pela literatura romântica e naturalista do século XIX, de homens como Victor<br />

Hugo, Zola e Dickens, que nos descreveram sob cores lúgubres as coketowns, as minas de<br />

carvão trabalhadas por mulheres e crianças, as favelas imundas e poluídas de Londres e<br />

Birmingham, a prostituição e a miséria da migração rural, o universo cruel do "capitalismo<br />

selvagem". O Estado apareceu como um Salvador predestinado. Estava empenhado em<br />

eliminar essas injustiças, não só porque a maioria assim o exigia num regime democrático,<br />

mas porque as próprias classes cultas, dominantes, formadas sob critérios caritativos<br />

cristãos, se indignavam com o espetáculo de desigualdades consideradas escandalosas. No<br />

Brasil contribuiu ainda a visão paternalista do Estado, a mamãezada. Aqui como em outros<br />

países pobres, sob o estímulo das "sociedades exemplares", a missão soteriológica do<br />

Estado se completou com a de nos arrancar do subdesenvolvimento. O apogeu desse mito<br />

estatal ocorreu na década de trinta quando a esquerda, a direita e o centro democrático,<br />

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