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O Dinossauro - Ordem Livre

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jovem cabeça-ovoide "liberal", Peter Steinfels (NY, 1979); e por George H. Nash, em seu<br />

The Conservative Intellectual Movement in America (NY, 1976). Igualmente instrutiva a<br />

obra de Guy Sorman, La Révolution conservatrice américaine (1983).<br />

O problema na América é que os intelectuais (professores, cientistas sociais,<br />

escritores, jornalistas) são mui frequentemente chamados a participar do governo. Os<br />

contatos com o mundo universitário são íntimos. Kennedy e seus irmãos cercaram-se de<br />

eggheads e encomendaram pesquisa sobre pesquisa a think-tanks, formados de pessoal<br />

universitário. Casos recentes e particularmente notáveis são os de Kissinger, Brzezinski e<br />

Jean Kirkpatrick. Um outro exemplo mais antigo de lente universitário erguido à<br />

presidência foi Woodrow Wilson que, malfadadamente, levou para suas considerações de<br />

política internacional, nos anos cruciais de 1917-1919, uma terrível ignorância de geografia<br />

e história, e preconceitos intelectuais liberais divorciados da realidade política complexa da<br />

Europa: o resultado foi o desastre do Tratado de Versalhes que promoveu o nazismo.<br />

O intercâmbio entre universidade e governo, que também se registra no Brasil, faz<br />

perder de vista a oposição fundamental que se ergue — conforme quero insistir — entre a<br />

classe intelectual e a classe burocrática, uma antinomia que prefiro caracterizar em termos<br />

psicológicos, mais que propriamente sociológicos. O burocrata-tipo, para começar, é um<br />

profissional. Está adstrito a certas regras mais ou menos rígidas de sua profissão e segue<br />

uma carreira administrativa. O tecnocrata pertenceria a um setor elitista da burocracia,<br />

especializando-se em ramos como a engenharia, a física nuclear, a macroeconomia, a<br />

agronomia, a educação, a medicina, cujas perspectivas particulares traria para sua atividade<br />

político-administrativa nos setores respectivos. Lato sensu, eu incluiria, no Brasil, os<br />

militares entre os tecnocratas, embora as origens e o ethos da classe armada sejam distintos,<br />

sui generis.<br />

O intelectual, no sentido que estamos usando a palavra, pode também ser um<br />

profissional, mas de profissão menos caracteristicamente técnica, ou não associada à<br />

atividade político-administrativa propriamente dita. Vale aqui lembrar a distinção que foi<br />

estabelecida por Hume entre o que chamava "facções de princípios" e "facções de<br />

interesses". As facções de princípios teriam, na época, conteúdo religioso ou filosófico; ao<br />

passo que as facções de interesse se refeririam a interesses de poder ou orientadas para<br />

cargos e poder. A distinção psicológica que eu postularia seria então entre o pragmatismo<br />

racional, que é exigido do bom burocrata, e o intuicionismo livre e imaginativo que<br />

estimula o intelectual. O primeiro está preso às exigências irrefragáveis da realidade<br />

empírica, no sentido que se deve curvar às possibilidades da máquina administrativa e aos<br />

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