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O Dinossauro - Ordem Livre

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Na Suíça, existe um único carro oficial, na capital, Berna. É o do Cerimonial do<br />

Departamento Político Federal, utilizado unicamente para transportar o Embaixador, na<br />

entrega de credenciais, ou o ilustre visitante estrangeiro em cerimônia oficial. Em Brasília,<br />

existiriam 2.300 carros de chapa branca, segundo o Ministério da Administração. Seria<br />

interessante fazer uma estatística do número total de veículos automóveis existentes em<br />

todo o território nacional e de propriedade do Estado em todos os níveis... Quantos? Meio<br />

milhão? Um milhão? Vinte mil, pelo menos, com chapa fria.<br />

Tudo realmente se estatiza em nosso país, tudo cai sob o domínio leviatânico do<br />

Estado patrimonialista. Havia antigamente três coisas, três coisas únicas que o brasileiro<br />

levava a sério, contrariando o famoso julgamento pessimista do general de Gaulle: o<br />

futebol, o jogo do bicho e o carnaval. O futebol pouco a pouco se enreda nas malhas oficiais<br />

daquilo que deverá um dia transformar-se no Ministério dos Desportes. O jogo do bicho —<br />

um trabalho imenso é feito para legalizá-lo ou, por outra, para retirá-lo de um controle pelo<br />

ilícito semi-policial para um lícito governamental, depositando-o eventualmente no colo<br />

protetor do Estado que dele então retiraria boa renda. Quanto ao carnaval, ouçamos o que<br />

nos tem a dizer o engenheiro Sérgio Quintela, membro da Comissão de Estudos<br />

Constitucionais, industrial de renome e presidente do PFL do Rio de Janeiro: "... o Estado<br />

vem, crescentemente, assumindo o comando e a responsabilidade de coisas que,<br />

genuinamente, deviam ser conduzidas no âmbito dos indivíduos. Hoje é difícil dizer se o<br />

carnaval é uma festa popular, um evento oficial ou, pior que isto, a mistura das duas coisas,<br />

sem que se saiba exatamente onde começa uma e termina a outra. A Escola de Samba é<br />

uma pessoa jurídica de direito privado, subvencionada com recursos públicos; e o desfile<br />

das escolas é uma promoção organizada e regulamentada pelo Estado, realizada em um<br />

próprio estadual, doublé de escola pública e local de espetáculo popular. Finalmente, é o<br />

Estado (e não o público) que diz qual das escolas (de samba) é a melhor. Na verdade, por<br />

força da obstrução dos canais de representação e de um pragmatismo perverso, que perdeu a<br />

noção do recato e do direito, o Estado brasileiro estendeu sua soberania aos desejos e<br />

costumes dos cidadãos". (No JB de 10-10-85)<br />

O professor Thomas J. Trebat estudou o caso do Estado como empresário numa<br />

obra com título Brazil's State-owned Enterprises e subtítulo A case study of the State as<br />

entrepreneur (Cambridge University Press, 1983). O mestre da Universidade de Vanderbilt<br />

e da Universidade do Texas em Austin chega a um resultado relativamente otimista sobre a<br />

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