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O Dinossauro - Ordem Livre

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empirismo do bom senso que prospera na Grã-Bretanha com Locke, Hume e Adam Smith,<br />

no sentido de promover a confiança na capacidade do indivíduo de defender os seus<br />

próprios interesses e trabalhar por sua própria prosperidade, floresce no continente o que<br />

Hayek chama o ponto de vista racionalista ou construtivista. Escreve o grande economista e<br />

pensador anglo-austríaco: o construtivismo "pedia a reconstrução deliberada de toda a<br />

sociedade de acordo com os princípios da razão. Essa linha derivava da nova filosofia<br />

racionalista desenvolvida sobretudo por René Descartes (mas também por Thomas Hobbes<br />

na Inglaterra) e alcançou sua mais forte influência no século XVIII através dos filósofos da<br />

Iluminação francesa. Voltaire e J.-J. Rousseau foram as duas figuras mais influentes do<br />

movimento intelectual que culminou na Revolução francesa e do qual procede o tipo de<br />

liberalismo continental ou construtivista. O cerne desse movimento, ao contrário da tradição<br />

britânica, não era tanto uma doutrina política definida quanto uma atitude mental<br />

generalizada, um reclamo de emancipação de todo preconceito e toda crença que não<br />

pudesse ser racionalmente justificada, e excluindo qualquer autoridade de 'padres e reis'".<br />

Hayek não coordena, contudo, o fenômeno do despertar do liberalismo<br />

construtivista na Europa continental com o processo ominoso e, de certo modo,<br />

independente, de estruturação progressiva do Estado-nação soberano e de criação de uma<br />

ideologia romântica correspondente, a do nacionalismo. Foi Rousseau, como vimos, o<br />

pensador que trouxe para a cozinha de forno e fogão dessa ideologia o apimentado<br />

ingrediente emocional, capaz de transformá-la na poderosa peçonha revolucionária que a<br />

distinguiu em nosso século. De qualquer forma, o "construtivismo" racionalista inaugurado<br />

por Hobbes invade os países latinos. Ele se estende ao Brasil entre eflúvios românticos com<br />

o despotismo modernizante de Pombal, com o positivismo de Augusto Comte na segunda<br />

metade do século XIX, com o socialismo marxista de nossos dias e com a mania de<br />

planejamento estratégico, implementado pelos militares no período 1964-1984.<br />

A tese que defendi é, portanto, a de que a ideologia nacional-socialista, origem do<br />

social-estatismo asfixiante que assoberba o mundo moderno, é o produto "sintético" da<br />

antítese dialética da razão e da paixão — elaborada na Idade barroca. As seções do Primeiro<br />

Capítulo desta obra foram destinadas a colocar nossa equação brasileira num contexto mais<br />

vasto de história universal cujos fatores determinantes foram os grandes movimentos de<br />

cultura definidos como Racionalismo e Romantismo. A natureza altamente estetizante,<br />

afetiva e, digamos, "dionisíaca" ou "erótica" de nosso povo, nos converteu<br />

entusiasticamente ao Romantismo, em permanente tensão com as exigências racionais do<br />

desenvolvimento. Ora, Hobbes e Rousseau não são adversários: são aliados naturais.<br />

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