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O Dinossauro - Ordem Livre

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círculo vicioso de controle e vigilância da burocracia se faz, obviamente, com mais<br />

facilidade — e, consequentemente, é ali a burocracia menor e mais eficiente — do que em<br />

populações imaginativas de sangue quente latino e temperamento nervoso, como a<br />

brasileira. Entre nós, aparentemente, o problema não tem solução. Estamos mais bem<br />

preparados para o futebol ou o carnaval do que para a burocracia. Mas o paradoxo que se<br />

destaca das cogitações de Crozier é que quanto mais bem adaptada é uma burocracia ao<br />

temperamento local, mais eficiente, e quanto mais eficiente, menos numerosa e opressiva.<br />

Entre nós a única solução um dia possível para o fenômeno burocrático é a repulsa à<br />

robotização do indivíduo, coisa que só poderá ocorrer com o próprio robô. O computador<br />

será a única maneira de romper o círculo vicioso. Ele sempre será mais eficientemente<br />

impessoal, mais mecânico, trabalhando sine ira et studio, sem irritação, sem preguiça, sem<br />

ímpetos grevistas ou pedidos de aumento ou intrigas de promoção, sem mau humor, e<br />

menos interessado em seduzir seus companheiros de sala do que em ser seduzido pelo<br />

processo em pauta.<br />

De um lado, afirma Crozier, "a maior parte dos autores pensa que o<br />

desenvolvimento das organizações burocráticas corresponde ao advento do mundo moderno<br />

da racionalização e que, por esse motivo, é intrinsecamente superior a todas as demais<br />

formas possíveis de organização; enquanto, do outro, muitos autores e frequentemente os<br />

mesmos, consideram as organizações como se fossem Leviatãs através dos quais se está<br />

preparando a escravidão da raça humana" (p. 258). Crozier nota que a mesma atitude<br />

paradoxal e às vezes ambígua está desde o princípio nas famosas análises de Weber. Alvin<br />

Gouldner (citado por Crozier) salienta que os pensadores que se ocupam de burocracia<br />

"estão procurando ressuscitar a 'ciência lúgubre' do início do século XIX (a economia<br />

política) em lugar de dizer-nos que a burocracia é inevitável" (em Complex Organizations,<br />

ed. Amitai Etzion, NY, 1962). Os pensadores pessimistas referidos por Crozier vão de Rosa<br />

Luxemburgo e Leon Trotski a Bruno Rizzi, Simone Weil, C. Wright Mills e W. H. Whyte<br />

Jr.<br />

Na América, logo depois da guerra, James Burnham profetizou a revolução dos<br />

managers, os grandes gerentes que se apossariam do poder político e econômico. Bruno<br />

Bettelheim também se referiu à "burguesia estatal". Mais recentemente o russo Voslensky<br />

vulgarizou o termo Nomenklatura, referente aos Who's who das personalidades burocráticas<br />

que controlam a URSS. Não nos cabe aqui aprofundar essas teses sobre o destino da<br />

burocracia. Observemos, contudo, que a noção de uma "nova classe" burocrática, noção<br />

geralmente acolhida pelos intelectuais, se distingue nitidamente da concepção crítica de<br />

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