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O Dinossauro - Ordem Livre

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dos países latino-americanos, com a possível exceção do Chile. Ele insistiu na tese de que o<br />

exército exprimia a opinião da população mais moderada e culta do país. O exército, dizia<br />

ele, é "o partido da burguesia". De acordo aliás com seu papel histórico, herdado do<br />

Império, de "poder moderador" — o exército teria uma missão importante a cumprir para<br />

desmanchar os resquícios da ditadura getuliana, com seus mecanismos sindicalistas,<br />

peleguistas, clientelistas e populistas, preparando o povo para a democracia. Lacerda,<br />

infelizmente, era mais frio e sereno na lógica de sua teoria, do que no vigor destemperado<br />

de sua práxis. E isso se revelou, dramaticamente, 15 anos depois.<br />

Na noite de 4 de abril de 1964 ocorreu talvez um dos mais importantes episódios<br />

que iam determinar o destino do movimento de 64. Numa reunião acalorada entre Costa e<br />

Silva e os governadores civis dos principais estados brasileiros (Magalhães Pinto, Lacerda,<br />

Adhemar, Meneghetti) que haviam todos prestado seu apoio decisivo ao movimento, um<br />

choque grave estourou com o ministro da Guerra que Lacerda acusou de querer "usurpar"<br />

os resultados do golpe militar. Lacerda, na ocasião, ameaçou renunciar ao governo da<br />

Guanabara. Foi desse dramático confronto que resultou o apoio à candidatura do general<br />

Castello Branco à Presidência da República mas conduziu em 1967, infelizmente, à subida<br />

ao poder de Costa e Silva com as consequências duvidosas por todos reconhecidas.<br />

Não quero aqui voltar aos tristes fatos que, após o governo excepcional de Castello<br />

Branco, talvez o maior estadista que tenha até hoje a República produzido, levaram à<br />

deterioração progressiva do movimento cujo propósito fora renovar a democracia no Brasil.<br />

De qualquer forma, no final de minha conversa com o professor Stepan, meditei sobre a<br />

sorte que estava reservada para o próprio Carlos Lacerda no regime militar. Ele, que<br />

poderia ter sucedido a Castello Branco se tivesse sido mais hábil e menos descomedido, foi<br />

tragado na voragem dos Atos Institucionais. Por sua natureza passional, brigou com o<br />

marechal Castello, o único homem que lhe poderia haver assegurado a ascensão à suprema<br />

magistratura. E tornou-se assim vítima do projeto que pregara como único modo de<br />

alcançar à plenitude liberal democrática em nossa terra. Stepan retrucou-me que talvez<br />

Lacerda tenha assim mesmo tido razão. A pergunta que se pode fazer é, efetivamente: até<br />

que ponto a Nova República é o resultado de um amadurecimento permanente do Brasil<br />

sob o impacto de vinte anos de regime militar?<br />

A questão é interessante. Durante muito tempo estive convencido de que os anos<br />

de "linha dura" da presidência Castello Branco correspondem em nossa história ao<br />

"despotismo esclarecido" modernizante que antecedeu e preparou os fundamentos da<br />

democracia liberal representativa. Não teria havido democracia em França sem Napoleão,<br />

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