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O Dinossauro - Ordem Livre

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interesses e do instinto de poder, da vontade de domínio. Impera o stupor mundi. É verdade<br />

que, no Brasil, temos resolvido quase todos os nossos problemas fundamentais graças a um<br />

dom realmente notável de intuição profunda, essa forma feminina, muito peculiar, do<br />

pensamento por métodos não-racionais como centelha direta do Inconsciente. Se<br />

conseguimos improvisar "soluções brasileiras" (com nosso famoso jeito...) sob a pressão<br />

imediatista de circunstâncias urgentes; se temos também, graças à nossa admirável cultura<br />

do sentimento, amaciado e suavizado as tensões políticas e sociais, geradas em momentos<br />

de crise, numa população racialmente heterogênea e afetada por enormes contrastes de<br />

cultura, de educação e de riqueza — é porque possuímos o coração como estupendo e<br />

enorme recurso de nossa alma nacional. Mas é evidente que sentimento e intuição, de<br />

exercício excepcional, não são mais suficientes para atender às fortes exigências do<br />

momento. O processo de transformação da alma coletiva implica uma diferenciação aguda e<br />

minuciosa de novos instrumentos intelectuais, particularmente no terreno sensível da<br />

política.<br />

Acontece que estamos, justamente, num momento em que é preciso pensar a<br />

solução brasileira. Pensá-la em termos políticos, sociais e culturais, como já a estamos<br />

pensando em termos econômicos. Se a conjuntura impõe a procura de fórmulas para nossas<br />

instituições, capazes de arcar com os problemas da passagem para uma nova ordem de<br />

democracia, de autoridade e de justiça; se o próprio desenvolvimento requer opções<br />

decisivas quanto ao caminho que devemos trilhar para enfrentar e superar os problemas<br />

gerados na tempestade da Revolução industrial — então, é imprescindível que haja<br />

julgamento amadurecido. Que haja crítica. Escolha. Decisão.<br />

"Entre as leis que governam as sociedades humanas", escreveu o ilustre Alexis de<br />

Tocqueville em princípios do século passado, "há uma que parece ser mais precisa e clara<br />

do que todas as outras. Se os homens devem continuar a civilizar-se ou tornar-se<br />

civilizados, a arte de associação deve crescer e melhorar, na mesma proporção em que<br />

aumentam as condições de igualdade." A instabilidade política da Ásia, da África e da<br />

América Latina é atribuída, por muitos estudiosos americanos, precisamente à incapacidade<br />

desses países de atenderem a essa condição: a igualdade na participação política está<br />

crescendo muito mais rapidamente do que a "arte de associação".<br />

Ecoando o grande estudioso da democracia americana, acentuou Walter<br />

Lippmann* que "não há maior necessidade para os homens que vivem em comunidades do<br />

que a de serem governados. Governados por si mesmos, se possível. Bem governados, se<br />

* Em artigo de 1963, no New York Herald Tribune.<br />

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