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O Dinossauro - Ordem Livre

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sociedade. "Nossa idade é a idade da organização intelectual dos ódios políticos", afirma<br />

Benda. O principal argumento de sua obra é a de que os intelectuais (os "clérigos" como<br />

eram chamados na Idade Média) atraiçoaram a causa do pensamento especulativo, racional<br />

e frio, em proveito dos interesses escusos da paixão política que invoca o nome da nação,<br />

do partido, da raça ou da classe. O que, em resumo, defendia Benda era também a soberania<br />

da Razão prática, com seus imperativos morais universais, contra os eflúvios da<br />

emocionalidade nacionalista, racista ou revolucionária, inspirada pelos vários sistemas<br />

ideológicos que perturbam e ensanguentam o planeta. O arrazoado se enquadrava na<br />

campanha do autor contra a voga do romantismo que julgava, corretamente, ser o principal<br />

corruptor dos ideais cartesianos de ordem, clareza e precisão, correspondentes aos aspectos<br />

mais positivos do espírito francês. "E de fato percebo desde dois mil anos até nossa época"<br />

— escreve Benda — "através da história, uma série ininterrupta de filósofos, religiosos,<br />

homens de letras, artistas e sábios, cujo movimento é uma oposição formal ao realismo das<br />

multidões. Para falar especialmente das paixões políticas, esses clérigos a elas se opunham<br />

de duas maneiras: ou, inteiramente afastados de tais paixões, davam o exemplo da<br />

dedicação à atividade puramente desinteressada do espírito, como foi o caso de um<br />

Leonardo da Vinci, um Malebranche, ou um Goethe, criando a fé no valor supremo dessa<br />

forma de existência; ou então, mais propriamente como moralistas e debruçados sobre o<br />

conflito dos egoísmos humanos, pregavam como um Erasmo, um Kant ou um Renan, com o<br />

nome de humanidade ou justiça, a adoção de um princípio abstrato, superior e diretamente<br />

contrário a tais paixões... Graças a esses homens, pode-se dizer que, durante dois mil anos,<br />

a humanidade fazia o mal mas honrava o bem. Essa contradição constituía a honra da<br />

espécie e abria a brecha por onde podia penetrar a civilização. Ora, no fim do século XIX se<br />

produziu uma mudança radical: os intelectuais passam a servir de instrumento das paixões<br />

políticas; aqueles que representavam um freio ao realismo dos povos se tornam seus<br />

estimuladores".<br />

Benda esqueceu, porém, que mesmo um Goethe não hesitou em servir a seu<br />

monarca, em Weimar, preenchendo funções administrativas. E que Turgot (1727-1781)<br />

poderia ter evitado a revolução francesa se seus princípios de economista ephilosophe<br />

houvessem, na prática, sido sustentados por Luís XVI e sua corte. A combinação da teoria e<br />

da praxis num mesmo indivíduo é rara, mas pode ocorrer. Poder-se-ia mesmo sugerir que a<br />

primeira tentativa de conciliar os dois ramos da inteligência, preocupados com os negócios<br />

públicos, foi empreendida por Platão. De fato, o que Platão propôs foi que os reis se<br />

fizessem filósofos e os filósofos se tornassem reis. O próprio Platão não o conseguiu na<br />

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