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O Dinossauro - Ordem Livre

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Régime. "O folheto oficial sobre as leis fiscais francesas consta de 834 páginas e é tão<br />

obscuro quanto um livro de James Joyce". Como estudo de mentalidade, uma outra obra<br />

que merece menção mais demorada e Le mal français (Plon, 1976), do ilustre escritor,<br />

jornalista e político, antigo ministro da Justiça no governo de Giscard d'Estaing e<br />

atualmente diretor político de Le Figaro, o senhor Alain Peyrefitte. Nessa obra Peyrefitte<br />

aponta para a burocracia como um dos itens mais sérios da mentalidade viciosa que<br />

descreve sob o título de "mal francês". O livro, aliás, foi traduzido para o espanhol e o<br />

italiano sob o título O mal latino.<br />

Concordo com André Siegfried que o estudo das mentalidades é refreado pelas<br />

próprias mentalidades. A psicologia dos povos não goza de boa reputação, vagamente<br />

contaminada que ficou com as elucubrações racistas de antes da segunda guerra mundial. É<br />

humilhante e desencorajador admitir que nossos fracassos, defeitos e carências resultam do<br />

que temos de mais íntimo e profundo em nossa alma. É tão mais cômodo, quando somos<br />

atrasados e subdesenvolvidos, pôr a culpa em cima de alguma circunstância geológica,<br />

episódio histórico ou então, melhor ainda, nas costas dos detestáveis imperialistas! No<br />

entanto, com muita coragem, Peyrefitte concentra-se teimosamente no problema das<br />

"mentalidades". Procurando escapar à lei dos gêneros, ele oferece ao mesmo tempo um<br />

ensaio de sociologia, uma pesquisa histórica, um manifesto político e um estudo de<br />

psicologia coletiva, esboçando ao final uma terapêutica. Ao desprezar as projeções do<br />

materialismo histórico que procura atribuir este ou aquele mal a esta ou aquela condição de<br />

natureza econômica, o autor apresenta um vasto cabedal de exemplos eruditos, ao pesquisar<br />

os problemas que o povo francês carrega em si mesmo, por força de suas idiossincrasias,<br />

disposições de temperamento e heranças culturais. É uma posição à qual não posso senão<br />

oferecer os meus mais entusiásticos aplausos.<br />

Os primeiros sintomas já surgem no século XVIII, com a política de centralização<br />

de Luís XIV, mas o mal vai crescendo à medida que mudam os regimes. O autor,<br />

entretanto, dá ênfase particular como trauma na história da Europa à Reforma e à Contra-<br />

Reforma, trauma que lançou uma parte do Ocidente no caminho do desenvolvimento,<br />

retendo a outra parte no que ele descreve como uma sociedade hierarquizada e dogmática<br />

de índole romana. Grande parte da obra é constituída pela crítica acerba das "estruturas<br />

sociais doentias" resultantes do espírito administrativo rígido, centralizador, bloqueado,<br />

arcaizante, compulsivo que a França, com suas irmãs latinas, teria herdado da tradição<br />

católica romana. Manifesta aí ser discípulo leal de Max Weber, a quem cita repetidas vezes.<br />

Segui o mesmo caminho em meus livros sobre o Brasil, salvo que me parece merecerem<br />

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