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O Dinossauro - Ordem Livre

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aliás, era na época diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de<br />

Janeiro. Terminaria a vida como Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores,<br />

um cargo que foi outrora preenchido por sumidades como Clóvis Beviláqua, Levy Carneiro,<br />

Hildebrando Accioly e Haroldo Valladão. Ao morrer, a família promoveu-o a<br />

"Embaixador", com cujas honras foi enterrado...<br />

Naquela ocasião, estava eu tentando obter, no Rio de Janeiro, o meu diploma de<br />

bacharel em ciências jurídicas e sociais por terminação de curso em 1939 — diploma que<br />

havia descurado de retirar em época oportuna, em virtude de não me ser útil na carreira<br />

diplomática. O documento se me tornava agora imprescindível para o exercício de atividade<br />

docente na Universidade de Brasília, conforme projeto que acariciava. Durante mais de três<br />

meses meu procurador no Rio tentou, inutilmente, obter o tal diploma na Faculdade de<br />

Direito. A indústria de dificuldades para vender facilidades funcionava, porém, a pleno<br />

rendimento: me exigiam provas infinitas de quitação com o serviço militar, de terminação<br />

de curso secundário, além de levantarem toda espécie de objeções oriundas de pequenas<br />

discrepâncias na grafia de meu nome no curso primário. Pensei comigo mesmo: se eu,<br />

embaixador, assessor do próprio Ministro da Educação, funcionário público então com mais<br />

de trinta anos de serviço, encontrava tamanhos obstáculos e chicanas para arrancar o<br />

documento da Faculdade, o que não deveria ser então a via crucis de um pobre estudante<br />

sem pistolão que tivesse terminado o curso e desejasse, com urgência, exercer a sua<br />

profissão na advocacia! Naquele momento exato, a imprensa anunciou um escândalo de<br />

derrame de diplomas falsos da mesma faculdade. Indignado, reclamei do Ministro e escrevi<br />

uma carta ao Jornal do Brasil, que foi publicada. Para terminar a conversa: o Ministro<br />

julgou nossa convivência impossível. Retirei-me, aliviado, e fui removido para a<br />

Embaixada na Noruega onde encontraria um clima mais frio, porém mais honesto...<br />

Quero terminar este pequeno interlúdio memoroso sobre experiências pessoais<br />

com o <strong>Dinossauro</strong>, relatando o caso estupendo de um outro parasita e charlatão do serviço<br />

público que exemplifica às escancaras o baixo nível moral, comumente vigorante no<br />

funcionalismo brasileiro. Esse cavalheiro exerceu durante anos a função de "adido<br />

comercial" em Paris. Era regiamente pago em dólares, numa quantia apenas pouco inferior<br />

à do embaixador de quem dependia. Na realidade, seu sucesso em manter-se na Cidade Luz,<br />

sólido como a Torre Eiffel, se devia unicamente ao exercício pouco recomendável da<br />

profissão de caften. Arranjava mulheres (e que mulheres!) para todos os magnatas da<br />

burocracia botocuda que frequentavam Pigalle, Montmartre ou o Quartier Latin. Diziam<br />

que seu principal protetor era o então vice-presidente da República... O personagem,<br />

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