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O Dinossauro - Ordem Livre

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Afirma Gaston Morin (em La révolte des faits contre le code) que "pode Rousseau, com<br />

justo título, dar-se como teórico dos despotismos, assim como da liberdade. Ao menos,<br />

porém, em seu pensamento repousa o despotismo sobre a ideia de liberdade. É a tese do<br />

Contrato Social". Tanto quanto podemos admirar o gênio do genebrino em anunciar<br />

profecias apaixonadas, nos sentimos perdidos no perplexo labirinto de sua doutrina<br />

sistemática. De Bonald asseverou que ele pretendeu "ordonner le désordre" e Benjamin<br />

Constant, o mais sincero liberal, depois de observar que o que Rousseau sentia com tanta<br />

força, não conseguia definir com precisão, acusou-o da criação "do mais terrível<br />

instrumento para toda espécie de despotismo".<br />

As inconsistências de Rousseau seriam, ao que me parece, da própria essência de<br />

sua filosofia. Não podem, consequentemente, ser sobrepujadas. A emoção é incoerente,<br />

ambivalente, ilógica. Os paradoxos encarnam a natureza dialética mais íntima da ideologia<br />

que foi refinada por Hegel e por Marx e que triunfa em nossos dias quando, por toda parte<br />

neste mundo, os regimes mais disparatados, antagonísticos e incompatíveis reclamam<br />

emocionalmente a mesma esplendorosa defesa da Liberdade, da Justiça e da Democracia. O<br />

fato de os mais vociferantes defensores dos direitos humanos e invocadores da "vontade do<br />

povo", nos augustos cenáculos das organizações mundiais, serem também os promotores<br />

das formas mais abomináveis de tirania, só serve para acentuar o labirinto ideológico em<br />

que nos encontramos. Não é verdade que as mais pesadas ditaduras se proclamem, num<br />

duplo pleonasmo, "repúblicas democráticas populares"? E que algumas ainda mais<br />

obscurantistas se intitulem "científicas"? George Orwell inventou o termo magnífico<br />

double-think. o "duplo-pensar" configura a linguagem do incubo ideológico: está enraizado<br />

na circunstância de que Rousseau pregou a liberdade individual ao invocar reiteradamente a<br />

Razão, ao passo que a movimentação dos poderes irracionais do Leviatã foi a consumação<br />

natural de seu papel, ao desembestar as emoções de multidões anárquicas. O triunfo da<br />

oclocracia. O grande antagonista de Rousseau, Edmund Burke, pode ser singularizado<br />

como o pensador que compreendeu imediatamente o problema da conciliação difícil entre a<br />

liberdade do indivíduo e a necessidade de manutenção da ordem e da segurança pela<br />

autoridade estatal responsável. Tal conciliação não pode ser concretizada sobre os<br />

fundamentos problemáticos de um quebra-cabeça ideológico. Não se trata de manobrar<br />

fórmulas, teorias, instituições ou constituições. A solução só pode ser encontrada na ordem<br />

interior da alma de cada cidadão: uma razão prática...<br />

Muitos dos admiradores modernos de Rousseau protestam, às vezes<br />

veementemente, contra as suspeitas que recaíram sobre sua obra desde a época de<br />

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