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O Dinossauro - Ordem Livre

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ambas habitadas por descendentes de escravos africanos? Haiti é o mais escandaloso<br />

exemplo de miséria, subdesenvolvimento e colapso político do continente. Barbados, ao<br />

contrário, goza de uma renda per capita superior a três mil dólares e um índice de 99% de<br />

alfabetização. Os West Indians pretos que emigraram para os EUA desfrutam hoje um nível<br />

de vida que excede o da média americana e é quase o dobro da dos negros nativos. No meu<br />

entender, Harrison atribui corretamente o sucesso dos pretos de Barbados ao fato de<br />

haverem absorvido a cultura inglesa com seu substrato moral e religioso, sua ênfase na<br />

responsabilidade individual e seu incentivo liberal ao self-government. O colonialismo<br />

britânico gerou na ilha uma predisposição à liberdade na ordem, tradição oposta à do estado<br />

burocrático, mágico, paternalista e centralizador que se impôs em Haiti com a colonização<br />

francesa. Esta, além disso, também trouxe consigo o ímpeto romântico jacobino de rebeldia<br />

que conduz, por conversão dialética, ao despotismo. O contraste é mais saliente se<br />

compararmos o resultado alcançado por onze ex-colônias britânicas do Caribe (renda média<br />

per capita de US$2.000) e 21 nações da África Ocidental cuja renda per capita média, em<br />

conjunto, é de 700 dólares. Outro paralelismo esclarecedor sugerido por Harrison é entre<br />

Haiti e a República Dominicana, duas nações vizinhas. Seu argumento, porém, não é aqui<br />

tão preciso. No confronto entre a Argentina e a Austrália chegamos ao âmago do problema.<br />

Argentina e Austrália, nações de aproximadamente o mesmo nível de desenvolvimento<br />

cultural, a mesma extensão territorial e a mesma abundância de recursos naturais, estão<br />

hoje, a primeira, no rol das subdesenvolvidas, a segunda, com uma renda per capita de<br />

10.000 dólares, entre as mais avançadas do mundo. O mistério da decadência argentina,<br />

após o esplendor do princípio do século que a levou à vanguarda do progresso mundial,<br />

como já tivemos ocasião de acentuar anteriormente, é um dos mais espessos da sociologia e<br />

muitos pesquisadores se hão debruçado sobre o problema, procurando entendê-lo. A<br />

princípio, com os radicais de Irigoyen, depois com uma sucessão quase ininterrupta de<br />

golpes de estado, ditaduras militares e instáveis governos civis, foi a Argentina perdendo<br />

terreno, não obstante manter índices sociais e culturais passáveis. A que atribuir a dramática<br />

decaída? O peronismo e o tipo de populismo carismático de índole nacional-socialista são<br />

apenas um sintoma de um mal profundo, de difícil diagnóstico. Curiosamente, Domingos<br />

Sarmiento, um dos maiores pensadores argentinos, já se intrigava com as causas misteriosas<br />

da anarquia dos Pampas que atribuía ao fundo árabe-mourisco da população ibérica. O que<br />

poderíamos simplesmente propor é a tese de que os países são todos livres e responsáveis<br />

por seu destino. Em última análise, progride aquele que se sabe governar. A boa política é<br />

o segredo do desenvolvimento e do bem-estar do povo.<br />

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