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O Dinossauro - Ordem Livre

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Strauss alega que Hobbes, obviamente, "partiu, não como exigia a grande tradição, da 'lei'<br />

natural, isto é, de uma ordem objetiva, mas do 'direito' natural, isto é, de um reclamo<br />

(claim) subjetivo absolutamente justificador, o qual, longe de depender de qualquer outra<br />

lei, ordem ou obrigação prévia, é ele próprio a origem de toda lei, ordem e obrigação." A<br />

moral é assim por Hobbes integrada na lei positiva. Varia com esta à mercê das decisões do<br />

Estado, que é produto do egoísmo. A tese prosperaria com Hegel e com os cultores do<br />

direito positivo. A responsabilidade de Hobbes reside, portanto, no fato de haver<br />

contrariado a Filosofia Perene do Ocidente ao estabelecer, primeiro, a absoluta prioridade<br />

do indivíduo sobre a sociedade para, em seguida e contraditoriamente, propor o Estado<br />

como Leviatã, senhor absoluto do corpo e alma do indivíduo. Considerava, com isso, o<br />

indivíduo basicamente associal. O paradoxo perverso reside precisamente nesse fato que<br />

Hobbes salienta os "direitos naturais" ou "direitos do homem" (como o farão de modo<br />

crescente os românticos da linha de Rousseau) em vez de enfatizar os "deveres" morais,<br />

sem os quais nenhuma sociedade verdadeiramente livre pode sobreviver. A questão que, em<br />

suma, se coloca, tal como posso deduzir do arrazoado de Strauss, é a da alternativa racional<br />

entre uma ordem imposta exteriormente, pelo medo da punição, e uma ordem internamente<br />

determinada pelo imperativo moral.<br />

Devemos, naturalmente, admitir que Hobbes acreditava nos postulados de onde<br />

deduziu a monstruosa tese de absolutismo lógico. Também podemos seguir a opinião de G.<br />

Sabine (History of Political Thought), de que "sua filosofia ilustra a frase de Bacon segundo<br />

a qual 'a verdade mais facilmente emerge a partir do erro do que a partir da confusão'".<br />

Harald Höffding (A History of Modem Philosophy) admite igualmente que Hobbes seja<br />

importante "principalmente pela clareza com a qual expôs as limitações da hipótese<br />

materialista". Na verdade, levou Hobbes às suas últimas consequências as pressuposições<br />

radicais da Idade da Razão e, no Leviatã, foi alcançada uma profundidade de visão sobre os<br />

fundamentos do Estado nacional soberano cuja importância indiscutível só se torna óbvia<br />

quando posta em contraste com as ideias ainda mais falaciosas dos Românticos liberais.<br />

Mas o trabalho intelectual consciente, baseado nos postulados exigentes do<br />

materialismo racionalista, deve haver evocado os monstros mais terríveis na sombra da<br />

psique de Hobbes. Estes fantasmas só se tornam manifestos para o agudo observador<br />

quando descobre os vícios de rigidez, o pessimismo e as contradições internas de sua vida e<br />

de seu pensamento. O filósofo foi um empiricista que fundamentou seus conceitos em<br />

princípios de matemática completamente arbitrários e não provados, assim como em uma<br />

hipótese antropológica sobre o "estado de natureza" também sem qualquer alicerce<br />

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