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O Dinossauro - Ordem Livre

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evolução..." O desejo de revolta registra-se desde o início do movimento romântico — e de<br />

novo aí podemos notar com admiração como nossos Inconfidentes da Vila Rica de Ouro<br />

Preto tenham tão cedo percebido essa conexão entre a rebelião contra a autoridade<br />

monárquica da Metrópole e o seu próprio lírico desarvoramento emocional. Shelley, um<br />

"anjo belo e ineficaz" (beautiful and ineffectual), como o descreveu Matthew Arnold, ia no<br />

entanto proclamar com extraordinária energia a revolta de Prometeu contra a ordem lógica<br />

dos deuses da Razão clássica. O espírito de contestação e revolta viria a configurar uma das<br />

características permanentes na inspiração dos grandes poetas românticos que tamanho papel<br />

desempenhariam na primeira metade do século XIX. Mas isso de modo algum implica a<br />

crença de que o Romantismo não se tenha também podido transformar, sobretudo no<br />

pensamento filosófico, em fonte de tendências profundamente reacionárias.<br />

O culto da morte é uma das características mais notáveis do Romantismo. My<br />

name is death, cantaria Southey: the last best friend am I. Esse culto, na tradição da<br />

filosofia idealista alemã, conduz também a uma hiperdulia da violência e a uma concepção<br />

trágica da vida, nos quais podemos descobrir os pródromos da cosmovisão terrorística que<br />

eclodiu em nosso século. O romântico percebe que a morte é a suprema violência que sofre<br />

o indivíduo. É a violência que suprime a própria existência e que nos anula a consciência<br />

pela negação de nosso próprio Ser. Georges Cottier aponta para a influência que essa ideia<br />

de violência e de morte exerceu sobre Hegel, cuja filosofia vitalista passa então a afirmar a<br />

morte como uma condição dialética da vida, o foco fecundo de renovação da natureza. Os<br />

processos de nutrição, particularmente no espetáculo impressionante da vida dos animais<br />

carnívoros, comportam o sacrifício dos vivos em benefício da sobrevivência de outros<br />

seres. A natureza demonstra, efetivamente, que sua renovação eterna se desenvolve pelos<br />

encontros duplamente agressivos e amorosos, de amor e devoração, entre os seres vivos. A<br />

violência passa assim a ser considerada um elemento essencial da existência, no mesmo<br />

sentido que o amor, e a consciência dessa realidade conduz ao existencialismo trágido de<br />

Unamuno. O que os antigos e os escolásticos chamavam o humor irascibile ou colérico do<br />

homem, a concupiscência de domínio são condições da defesa da própria vida. O culto da<br />

violência e do heroísmo vital, na luta constante que é a vida, acabará tomando um cunho<br />

niilista na filosofia frenética de Nietzsche.<br />

Harold Nicolson (num artigo na revista Horizon, maio de 1961, vol. III, nº 5)<br />

descreve o movimento romântico como um desejo de expressão mais livre e mais<br />

individual, em ziguezagueante e explosivo protesto contra os velhos padrões de simetria<br />

geométrica e "correção". Diríamos então que é um protesto contra Bacon que, por<br />

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