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O Dinossauro - Ordem Livre

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obrigação de respeitá-lo e sustentá-lo. Não é de admirar que após noções dessa natureza o<br />

monarquista Clarendon haja considerado Hobbes um autor detestável. Acrescentemos que<br />

essas teses do filósofo lembram bastante o pragmatismo do filósofo político chinês Mencius<br />

(Meng Tzu), discípulo de Confúcio, com sua doutrina da Investidura Celeste, Ming.<br />

Devemos considerar a posição racionalista e autoritária de Hobbes vis-à-vis a<br />

Revolução de 1648; a de Locke, o liberal racionalista e empiricista em relação à Revolução<br />

de 1688 e à Revolução americana de 1776; e a de Rousseau, o romântico, em relação à<br />

Revolução francesa de 1789. Essas três posturas contraditórias conduziram à tese — que<br />

aceito como correta após a leitura de On Revolution de Hannah Arendt, essa autora às vezes<br />

tão ambígua e incoerente mas também, outras vezes, de intuição genial — segundo a qual a<br />

Revolução não conduz à liberdade mas à tirania. Se a Revolução inglesa de 1688 e a<br />

americana de 1776 criaram um Novus Ordo Saeclorum, liberal conservador, é porque na<br />

verdade não foram verdadeiramente revoluções, com profunda subversão social, mas<br />

apenas movimentos de libertação destinados a assegurar a autonomia do cidadão<br />

responsável. Tratava-se, simplesmente, de institucionalizar a liberdade que, essa sim,<br />

permite a mudança, a reforma e o progresso.<br />

É curioso observar, além disso, que um homem como Bertrand Russell, um<br />

positivista liberal e um agitado pacifista entre os Santos dos Últimos Dias, tenha encontrado<br />

tão pouco para criticar no pensamento de Hobbes. Em sua História da filosofia ocidental,<br />

Russell considera Hobbes o primeiro escritor realmente moderno no campo da teoria<br />

política. Cita, entre seus méritos, que seja "completamente livre de superstições; nem<br />

argumente com o que aconteceu a Adão e Eva no tempo da Queda. É claro e lógico: sua<br />

ética, verdadeira ou falsa, é completamente inteligível e não envolve a utilização de<br />

conceitos dúbios." Russell conclui que ele erra apenas por simplificar demasiadamente as<br />

coisas. Se, superficialmente, nos poderíamos admirar de encontrar Russell na companhia de<br />

um autor que tem sido geralmente apontado como propugnador do despotismo e seria hoje<br />

acusado de fascista — existe, indiscutivelmente, uma certa logique du coeur no empenho<br />

com que o filósofo positivista pregou a coexistência pacífica com a versão mais moderna do<br />

Grande Leviatã. Um slogan do tipo "mais vale ser vermelho, do que morto" (better red,<br />

than dead) pode ser matematicamente deduzido, pelo positivismo lógico de Russell, da<br />

premissa hobbesiana segundo a qual o homem inteligente deve fazer a entrega de sua<br />

liberdade ao Estado por medo da morte...<br />

Eric Voegelin notou, por outro lado, que, ao empreender essa análise do Estado em<br />

termos da existência imanente do homem, Hobbes provou ser "um dos maiores psicólogos<br />

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