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O Dinossauro - Ordem Livre

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internacionais da Universidade de Colúmbia, defende naquela obra uma tese segundo a qual<br />

as Forças Armadas brasileiras seriam expressões de anseios e interesses da classe média,<br />

sendo a oficialidade do exército recrutada democraticamente em classes progressivamente<br />

mais humildes da nação. Elas seriam também infensas ao tipo de violento radicalismo<br />

militar que tem caracterizado, por exemplo, os exércitos argentino e peruano. Vale notar<br />

que Stepan escreveu no apogeu do regime militar, tendo sobretudo a experiência positiva da<br />

presidência Castello Branco em vista. Seu argumento final é que os militares, no Brasil,<br />

constituem uma elite situacional e não uma elite de classe que funcione como tal. Stepan<br />

deixou em aberto o papel que os militares poderiam exercer como transformadores do<br />

sistema e fermentos de modernização.<br />

Visitando o notável brazilianista na Colúmbia recordei que eu mesmo frequentei<br />

aquela universidade nos anos 50. Tive ocasião na oportunidade de agir como intermediário<br />

interessado quando, em 1955, Carlos Lacerda apareceu em Nova York. Naquilo que a<br />

imprensa local descreveu jocosamente como um "exílio auto-imposto", o desterro fora<br />

causado, na realidade, pelo contra-golpe do general Lott (novembro de 1955) para assegurar<br />

a posse do presidente Kubitschek. O professor Frank Tannenbaum dirigia, na Colúmbia, um<br />

seminário dos mais proveitosos sobre Problemas do Hemisfério Ocidental, e o brilhante e<br />

agitado deputado carioca manifestou-me seu interesse em participar de tais reuniões.<br />

Acontece que, no seminário, concorriam vários outros exilados célebres da<br />

América Latina, todos eles vitimados por regimes militares. Entre eles, lembro-me do<br />

jornalista Gainza Paz, fugindo de Peron; Galindes, um espanhol inimigo figadal do<br />

generalíssimo Trujillo e que, pelo mesmo, seria posteriormente assassinado; German<br />

Arciniegas e dois ex-presidentes da Colômbia, expulsos pelo então ditador, o general Rojas<br />

Pinilla; e não me recordo do nome de um venezuelano, um cubano e um peruano,<br />

expatriados respectivamente pelos ditadores militares Perez Jimenez, Batista e Odría. Ora,<br />

qual não foi a surpresa, o espanto e, talvez mesmo, a indignação do auditório quando todas<br />

essas ilustres vítimas de regimes militares ouviram Carlos Lacerda, outro herói espantado<br />

de seu país por um general, propor a tese inacreditável: a de que só um regime militar seria<br />

capaz de implantar a democracia no Brasil. O efeito foi traumático!<br />

Carlos Lacerda, no entanto, raciocinou de modo correto. Ele seguiu uma linha de<br />

pensamento que, mais tarde, foi trilhada pelo professor Stepan na obra mencionada, e à qual<br />

eu mesmo me associei num livro de 1980, O Brasil na Idade da Razão — cujo capítulo<br />

pertinente é justamente o presente. Lacerda acentuou, em primeiro lugar, que o exército<br />

brasileiro sempre desempenhou, em nossa história, um papel diferente dos da maior parte<br />

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