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O Dinossauro - Ordem Livre

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provocado não poucos conflitos internos. O Brasil preferiu seguir o exemplo britânico.<br />

Durante o império tentamos a experiência do parlamentarismo liberal inglês e divertimonos<br />

com o joguinho do bipartidarismo — liberais X conservadores — um arremedo<br />

bastante artificial mas que, pelo menos, nos assegurou a liberdade e preservou da rebordosa<br />

anárquica e caudilhesca que, invariavelmente, atormentou nossos vizinhos. A república<br />

provocou o desmoronamento dessa estrutura. Com o pretexto de que a monarquia era<br />

anacrônica e incompatível com a atmosfera progressista do Novo Mundo, desprezamos um<br />

regime que nos granjeara longa tranquilidade e evitara as misérias imperantes à nossa volta.<br />

A democracia oligárquica e patrimonialista da República Velha, entretanto,<br />

também assegurou-nos cerca de 40 anos de relativa estabilidade política que terminou em<br />

1930. Isso porque, com certo pragmatismo e o uso do "estado de sítio", vestiu de formas<br />

liberais o que, na realidade, configurava um sistema presidencialista passavelmente<br />

autoritário, inspirado no Comtismo e praticamente independente da consulta popular. Desde<br />

então, e até 1964, o democratismo populista imperou. A minha geração foi testemunha de<br />

50 anos de desordem, entremeados de ditaduras de vários tipos.<br />

O espetáculo lastimoso não constitui privilégio brasileiro. Qual o país latino que<br />

não tenha sofrido sorte igual nos séculos XIX e XX? Vejam a França que, desde 1789,<br />

conheceu quinze regimes diversos. Ou a Espanha que viveu várias repúblicas e monarquias<br />

e "pronunciamentos" e guerras civis. E mesmo os países mais adiantados da América Latina<br />

como a Argentina, o Uruguai e o Chile, onde o sistema militar alterna com períodos de<br />

intranquilidade civil. Todos nós sofremos de um mal endêmico. Afeta-nos uma espécie de<br />

profunda moléstia — um nosos como o qualificam os filósofos gregos — da qual só talvez<br />

a pequena Costa Rica haja escapado. Democracia? É certamente uma ave rara nesta parte<br />

do mundo. E não se queira atribuir tal situação a motivos econômicos, raciais, geográficos<br />

ou outros, pois atinge tanto nações economicamente desenvolvidas, de raça branca e clima<br />

temperado como a Argentina e o Uruguai, quanto as nações pobres de raça mestiça e clima<br />

tropical como a Nicarágua ou o Peru. Devem existir motivações profundas, de natureza<br />

psicossocial, que nos cabe investigar.*<br />

Notemos, antes de mais nada, que a crítica do artificialismo das estruturas políticolegais<br />

por nós adotadas já há muito tem sido empreendida. Não é novidade. Certamente,<br />

nem o parlamentarismo liberal monárquico do Império, nem o presidencialismo federalista<br />

e autoritário da República correspondiam aos vigentes nas sociedades exemplares —<br />

Inglaterra e Estados Unidos — que havíamos adotado em nossas tentativas miméticas.<br />

* Abordei o tema em minhas obras Em berço esplêndido e O Brasil na Idade da Razão<br />

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