12.04.2013 Views

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

14<br />

O OGRO FILANTRÓPICO<br />

Oliveira Vianna, em sua Introdução à história social da economia pré-capitalista<br />

no Brasil, obra póstuma publicada em 1955, insiste no sentido que só em meados do século<br />

XIX foi, entre nós, lentamente penetrando a ideia capitalista, com seus critérios de trabalho,<br />

de concorrência e eficiência. Durante a época colonial que, no fundo, se prolonga até hoje,<br />

"os cimos da sociedade eram ocupados por uma pequena camada de indivíduos, ou antes de<br />

famílias todas elas assentadas sobre tradições de sangue. Estas famílias ou esta pequena<br />

camada exercia um prestígio fascinante sobre o resto das outras classes ou camadas da<br />

sociedade e por estas era considerada como superior por vários atributos — inclusive o<br />

privilégio de autoridade política. Era o radiant body de Veblen..." Ora, essas famílias<br />

aristocráticas, de "patrícios", "nobres" "eupátridas", "gentilhomens" ou "bem nascidos"<br />

consideravam-se desonradas ou desclassificadas (no sentido literal) se algum de seus<br />

membros se atrevesse a exercer atividades de trabalho manual, comercial ou artesanal. A<br />

virtude militar do nobre não podia ser conspurcada pelo trabalho pago. Oliveira Vianna<br />

segue a mesma linha de Peyrefitte, Revel, Gramont, Diaz-Plaja e Barzini ao notar que os<br />

padrões da nobreza de raça se opunham, nos países latinos, ao ideal produtivo da burguesia<br />

industrial em ascensão nos países protestantes. Cita Costa Lobo (em História da sociedade<br />

em Portugal no século XV) que considera: "Na Península Ibérica, forçada durante séculos a<br />

reconquistar o seu torrão natal contra os inimigos da fé, o sacerdote e o guerreiro<br />

enraizaram o seu predomínio e, muito mais desprezadas do que em outros países da Europa,<br />

foram as artes da riqueza e os seus obreiros: por isso, quando em tempos modernos foi<br />

derrocada a hegemonia daquelas duas classes e o produtor da riqueza tomou o seu lugar na<br />

estima pública, as nações da Península acharam-se, pela necessidade fatídica da sua<br />

história, imensamente distanciadas".<br />

O nobre, instintivamente, desprezava e detestava o plutocrata, isto é, o indivíduo<br />

que queria fazer dinheiro pela indústria e não pela guerra. Oliveira Vianna destaca, no<br />

nosso sermo vulgaris, como forte ainda é a imprimidura deixada pela tradição peninsular na<br />

nossa consciência da "vivência nobre". Essa vivência implicava sempre um serviço ao rei, à<br />

Corte, ao Estado em suma, e um repúdio correspondente aos riscos da iniciativa privada<br />

240

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!