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O Dinossauro - Ordem Livre

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esperar que o setor burocrático da Nova Classe permaneça em suas posturas conservadoras,<br />

enquanto o setor intelectual persevere em seu pendor progressista em nome da Justiça. Mas<br />

de uma Justiça liberal e universal, e não meramente socialista ou nacionalista.<br />

* * *<br />

Uma crítica recente e interessante do conceito de Nova Classe em nosso país se<br />

encontra na obra Trabalhadores, sindicatos e industrialização (1985), de Leôncio Martins<br />

Rodrigues. Esse professor da USP argumenta que nos países capitalistas de<br />

desenvolvimento liberal, como na Inglaterra e nos EUA, os intelectuais, em primeiro lugar,<br />

não tiveram muita importância política e social. Mas nos países de "tradição burocrática",<br />

de Estado forte e burguesia fraca, como na Rússia czarista, a intelligentsia desde muito<br />

cedo constituiu uma camada social importante, um agente de modernização ou de<br />

revolução. No Brasil, durante os 20 anos de autoritarismo militar, a expansão econômica<br />

fortaleceu socialmente a camada dos trabalhadores intelectuais enquanto, politicamente,<br />

excluía-se a sua participação política aberta. O resultado foi que seus setores mais jovens e<br />

radicais aderiram à luta armada, enquanto seus estratos superiores, mais moderados,<br />

associaram-se ao PMDB ou ao Partidão. No caso, trata-se, mais especificamente, da<br />

"vanguarda" da "nova classe", politicamente mais atuante: sociólogos, economistas,<br />

antropólogos, advogados, jornalistas, cientistas políticos. Estes são os setores capazes de<br />

elaborar, teoricamente, os valores, ideologias e interesses da "nova classe" que administra a<br />

economia e o aparelho estatal.<br />

O titular de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo salienta que o tema<br />

que apaixona é o desejo de conquista do poder pelo que chama de "burguesia intelectual".<br />

Ele cita dois autores húngaros, G. Konrad e I. Szelenyi, que trataram desse aspecto num<br />

livro que considera muito interessante: A marcha dos intelectuais para o poder. Um<br />

industrial que usa seu capital intelectual para ampliar os lucros de sua empresa não pode ser<br />

considerado um intelectual. É o capital econômico que lhe dá renda, poder, prestígio, etc.<br />

Como notam os dois autores citados, no caso de um intelectual, o "monopólio (relativo) de<br />

um saber complexo é o meio pelo qual a intelligentsia procura obter um poder social e<br />

retribuições importantes". A libertação do saber, e consequentemente dos intelectuais, do<br />

domínio do capital econômico, só pode realmente ocorrer quando o único critério legítimo<br />

de poder for o próprio saber. Se pensássemos em uma economia capitalista liberal, tal como<br />

Marx imaginou em O Capital, fora dos quadros de um sistema político e de um Estado, o<br />

fundamento de toda riqueza e poder será sempre a propriedade e o capital econômico.<br />

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