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O Dinossauro - Ordem Livre

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ia fazer a ideologia. Esses "monstros a quem pertence o futuro", escrevia ele, se parecem<br />

com "os mais terríveis crocodilos que jamais se arrastaram na lama". A descrição se aplica<br />

ao neoprimitivismo, ao irracionalismo e à defesa de um retorno à Utopia Selvagem que<br />

propugnam os da Nova Esquerda pois, embora detestem o nazismo, eles aceitam<br />

inconscientemente o gesto de Göring que levava a mão ao revólver da cintura, cada vez que<br />

ouvia falar em Kultur... O romantismo do retorno à natureza envolve uma exaltação da<br />

violência e da agressividade animal, num derramamento romântico e desabrido de emoções.<br />

Para o ideólogo compenetrado, a própria lógica é tida como relativa: dois e dois não são<br />

quatro. Aceitar a verdade da fórmula 2 + 2 = 4 é o mesmo que se submeter à horrenda<br />

necessidade autoritária do pai, ao arbítrio do adulto, à lei da velha geração. Marcuse<br />

proclama que "a lógica do pensamento permanece a lógica da dominação". Para romper<br />

com essa tirania opressiva é necessário aceitar a dialética das explosões. O próprio universo<br />

deveria ler Das Kapital. Deveria impregnar-se de marxismo. E a ideologia revolucionária,<br />

aplicada à natureza, segundo Engels, se traduziria por uma tendência cósmica a grandes<br />

saltos naturais. Verdadeiras revoluções galácticas...<br />

Feuer define o intelectual ideólogo como uma "personalidade dialética", um<br />

emocional a priori, um descontente compulsivo, um crítico neurótico, um misfit. O<br />

ressentimento e o masoquismo configurariam duas das principais características do<br />

ideólogo típico. Camus considerava desprezível "proclamar o próprio pecado, ao bater no<br />

peito de outrem" — mas não é isso, precisamente, o que todos fazem? Eles contaminam a<br />

sociedade com sua própria angústia, polarizam com branco e preto as contradições políticas<br />

inevitáveis e projetam sobre a situação do momento a sua própria esquizofrenia. Ionesco, o<br />

criador do teatro do absurdo, acentua, depois de visita aos Estados Unidos, que os eggheads<br />

não aceitam a opinião de um visitante estrangeiro, a não ser que ache a América pior: a<br />

nação mais corrompida, mais injusta, mais violenta, mais agressiva que há. Os intelectuais<br />

de Berkeley e do Greenwich Village criam, assim, o seu próprio teatro do absurdo<br />

ideológico e moral.<br />

A concupiscência masoquista constitui um traço distintivo do ideólogo. Já durante<br />

a revolução francesa, sentiam os Jacobinos, como Danton por exemplo, uma verdadeira<br />

nostalgia da guilhotina: les dieux ont soif. Engels se referia à história como a mais cruel de<br />

todas as deusas: o intelectual se compraz em sofrer no holocausto, como vítima e agente da<br />

história. Após a revolução russa, assistimos ao empenho patológico com que os velhos<br />

bolchevistas se entregaram à sanha assassina de Stalin, circunstância que Koestler<br />

descreveu no célebre romance Darkness at noon (O zero e o infinito). Atualmente, o<br />

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