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O Dinossauro - Ordem Livre

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têm sido propostas. Trata-se certamente de um dos movimentos históricos mais polêmicos<br />

que se conhece. Alguns traços característicos, porém, podem ser esboçados. O mal<br />

romântico constitui uma perversão secularizada do evangelho joanino, o evangelho do amor<br />

na falsa hermenêutica de Pelagius. É um fenômeno de adolescência cultural — talvez a<br />

adolescência do mundo moderno pós-industrial, pois quase todo garoto na puberdade<br />

apresenta sinais indiscutíveis de desarvoramento romântico. É uma exacerbação da<br />

afetividade e do meramente emocional, o culto da sensibilidade cordial em prejuízo da<br />

racionalidade lógica e fria que nos conduz à apreciação empírica do real. A doença infantil<br />

da industrialização. Um protesto contra as restrições e a rigidez artificial da Persona<br />

gigantesca que se formara no Século das Luzes. Um desejo de expressão sem limites, sem<br />

fronteiras, inclusive as do bom senso, sem qualquer autocrítica, sem senso do ridículo, sem<br />

equilíbrio. Uma explosão daquilo que Nietzsche denominaria o espírito de Dionísio, em<br />

contrapeso ao hierático formalismo apolíneo do classicismo.<br />

"O Romantismo se impôs ao opor-se a tudo que lhe havia antecedido", escreveu<br />

Taine. Mas talvez nisso não esteja com inteira razão pois os românticos frequentemente<br />

idealizaram o passado, a Antiguidade, por exemplo, e sobretudo a Idade Média, gerando um<br />

revivalismo gótico precisamente para desafiar os classicistas do Racionalismo (é certo que,<br />

em arquitetura, o Romantismo contribui para um pot-pourri de neogótico, bizantino,<br />

sarraceno e outras fantasias gênero "exposição internacional"). Nos meios românticos mais<br />

radicais, o movimento implicou a liberdade de retorno à natureza, de tal modo que alguns<br />

tupiniquins chegaram a propor a Utopia Selvagem.<br />

Na pintura, o Romantismo ia claramente rebelar-se contra a arte acadêmica que<br />

Claude Lorrain, Poussin e David haviam imposto à francesa. A pintura romântica atrasou-se<br />

e só triunfou na verdade a partir de 1830, evoluindo no final do século para o<br />

Impressionismo e o Expressionismo. Os grandes nomes são então Turner, Constable,<br />

sobretudo Delacroix. Aparecem também os primeiros Surrealistas como o suíço Füssli e<br />

William Blake, que também foi um poeta e místico profético que escapa dos aspectos mais<br />

banais do Romantismo. Goya foi outro gênio torturado pelo conflito entre a Razão e as<br />

paixões desencadeadas do Romantismo, exprimindo em sua obra alguns dos traços<br />

mórbidos da psicopatologia que começava a alcançar a Europa. Edvard Munch.<br />

O romantismo também gerou inúmeras égéries, femmes fatales e inspiradoras<br />

geniais de gênios infelizes que, quase todos, como autênticos pueri aeterni, faleceram cedo,<br />

de tuberculose. Os dois maiores exemplos foram Mme. de Staël e George Sand, de nome<br />

verdadeiro Amandine Dupin. George Sand talvez tenha definido uma das exigências típicas<br />

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