12.04.2013 Views

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

O Dinossauro - Ordem Livre

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

tanto quanto lhe foi possível, para resistir aos ímpetos libertários do "terceiro estado" em<br />

ascensão, no Brasil tratava-se para o patriciado rural de combater o monopólio do poder de<br />

que se locupletavam aqueles que mantinham ligações diretas com a Coroa. Em tais<br />

condições, seria crível que o conservadorismo se transformasse na ideologia da classe<br />

patrimonialista urbana, ao passo que o liberalismo na da aristocracia rural. Hipólito José da<br />

Costa diria que, para a elite patrimonialista burocrática, cabia, simplesmente, "comer à<br />

custa do Estado e nada fazer para o bem da nação". Oliveira Lima, por outro lado,<br />

acentuaria (em D. João VI no Brasil) que, para as "classes conservadoras" associadas à<br />

burocracia estatal, "organizar o império consistiria apenas em reproduzir a estrutura<br />

administrativa portuguesa e colocar em empregos públicos os desempregados"... Assim se<br />

estabeleceu a tradição de ociosidade burocrática.<br />

O Feudalismo não cria um Estado em sentido moderno. Corporifica um conjunto<br />

de poderes políticos, divididos entre a cabeça e os membros separados de acordo com o<br />

objeto do domínio, sem atentar para as funções diversas e privativas, fixadas em<br />

competências estanques. Admitindo embora com reservas a tese de que nunca houve<br />

feudalismo desenvolvido em Portugal, tal como foi defendida por Alexandre Herculano,<br />

aceitaríamos em conclusão o corolário de que o rei português se elevou desde o princípio<br />

sobre seus súditos e vassalos. Uma ascensão muito rápida e não tortuosa como nas nações<br />

europeias, França e Inglaterra especialmente, em que durante séculos teve a monarquia de<br />

combater contra os grandes feudais para impor sua autoridade central. Enquanto o<br />

Absolutismo só temporariamente triunfou na Inglaterra com Henrique VIII (assim mesmo<br />

em termos), e, na França, com Luís XIV e Napoleão, já em Portugal a dinastia de Avis<br />

alcançara a hegemonia absolutista na época dos Grandes Descobrimentos, o século XV.<br />

O mercantilismo que inspirou a conquista da Índia transformou o Estado português<br />

em gigantesca empresa de tráfico. Esse crescimento prematuro do poder do Estado,<br />

consolidado subsequentemente e modernizado com o despotismo de Pombal, teria<br />

consequências ominosas. Ele impediu o desenvolvimento do capitalismo industrial que é,<br />

essencialmente, fruto da iniciativa privada. A península ibérica e suas colônias não<br />

conheceram as relações capitalistas na sua expressão industrial íntegra. O atraso ocorreu em<br />

virtude dessa ausência de raízes feudais profundas e da permanência teimosa de estruturas<br />

patrimonialistas centralizadas. O poder perene do príncipe português sobre o comércio e a<br />

economia está na origem do social-estatismo burocrático e paternalista (ou seria<br />

maternalista?) que hoje descobrimos no Estado brasileiro. A herança é o <strong>Dinossauro</strong>, o qual<br />

constitui o objeto da próxima seção.<br />

156

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!