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O Dinossauro - Ordem Livre

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visava salientar o culto da personalidade do Rei como símbolo central da coletividade e<br />

encarnação do logos político. Um Leviatã muito civilizado... O poder absoluto<br />

patrimonialista.<br />

Michelet procurou as origens desse "culto da personalidade" do soberano na antiga<br />

divinização de Alexandre. A ideia apolínea solar de Versalhes lembra, sem dúvida, as<br />

pretensões faraônicas do grande conquistador macedônio mas, na verdade, tais associações<br />

do Rei e do Sol são tão velhas quanto a ordem cosmológica das antigas sociedades<br />

orientais. A identificação do soberano como herói solar é motivo familiar de todas as<br />

mitologias políticas, desde as de Babilônia e Egito, até as da China e Japão. Aparece na<br />

República de Platão. Invade o Ocidente com os projetos de Alexandre em Heliópolis. Está<br />

presente em Roma com o culto do Sol Invictus onde influências orientais da mesma espécie<br />

se fizeram sentir, na época da decadência; e culminou no césaro-papismo teocrático de<br />

Bizâncio onde as colunas de pórfiro do templo do Sol foram adornar Santa Sofia e o Palácio<br />

imperial. Em Constantinopla, o herdeiro da coroa era o Porfirogêneta. Mesmo no<br />

Cristianismo, como é sabido, a associação persiste nos atributos de Cristo como Sol da<br />

Justiça; no simbolismo do galo que, do alto da torre da igreja, anuncia a alvorada; em certas<br />

sobrevivências da cosmologia pagã como, por exemplo, na designação do domingo como<br />

Dia do Senhor (Sonn-tag e Sun-day), e na celebração do solstício de inverno (o dia do<br />

nascimento do sol nas latitudes setentrionais) como data do Natal do menino Jesus.<br />

Na identificação de Luís, o Rei-Sol, com o soberano dos céus, descobrimos,<br />

portanto, a revivescência de ideias muito antigas que veiculam um dos motivos mais<br />

perenes da simbologia política. A paixão de Luís XIV pela glória constitui uma<br />

manifestação tangível e terrena da imagem da radiação de luz, calor e força de gravitação<br />

universal. Mais facilmente podemos assim compreender a tese urbanística de que o plano<br />

de Versalhes exprime a ideia dominante do absolutismo monárquico. Mas, não é necessário<br />

supor que os arquitetos da época estivessem conscientes de tal significado, nem certamente<br />

avaliassem até que ponto estavam exprimindo adequadamente o arquétipo, ao desenhar suas<br />

cidades segundo um plano radioconcêntrico, em forma estelar. O leito do Rei foi colocado<br />

bem no meio do Palácio, como foco de todo o esquema urbanístico. Luís considerava-se a<br />

própria emanação da França: "L'Etat, c'est moi!" dizia bem alto. Isso sobretudo quando<br />

dormia em seu leito de aparato, o que prova que a planta do palácio não representava<br />

apenas uma solução racional para o problema artístico: sente-se uma verdadeira emergência<br />

de matéria-prima inconsciente, constelada em torno dessa obra arquitetônica suprema da<br />

Idade da Razão.<br />

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