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O Dinossauro - Ordem Livre

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Detenhamo-nos um momento sobre essa tese. Verificamos que, na verdade, o que<br />

domina na psicologia de Hobbes tanto é o impulso de domínio, a agressividade, a vontade<br />

de poder, quanto o medo. Nasceu Hobbes no momento mesmo em que a Armada Invencible<br />

de Felipe II se aproximava do litoral inglês e que o maior susto percorreu as ilhas desde as<br />

invasões dos bárbaros, na alta Idade Média, e até que a Luftwaffe de Hitler lhes sobrevoasse<br />

os ares. Sob o signo do medo nasceu e viveu Hobbes — uma época de violência e angústia<br />

que lhe imprimiu no caráter um traço de insegurança, agrura e depressão. Na época, um<br />

pensador que mal se colocasse em política corria o risco de sentir a cabeça decepada a<br />

machado, por ordem do rei, de Cromwell ou do Parlamento. O próprio Hobbes sofreu exílio<br />

de doze anos em França e suportou a censura de seus livros, alguns dos quais tiveram que<br />

ser publicados na Holanda, então o país mais liberal do continente. A filosofia hobbesiana<br />

pode ser assim, logicamente, deduzida de uma intranquilidade existencial inata que<br />

explicaria seu temperamento acerbo e dogmático. Sabe-se que Descartes o achou<br />

insuportável. Hobbes formalizou, num edifício de conceituação política que é sem dúvida<br />

um dos mais majestosos no pensamento europeu, o sentimento perene de insegurança e<br />

inferioridade que apavora o homem. Em nosso século, foi Adler, o psicanalista dissidente<br />

da escola de Freud, aquele que melhor analisou o problema: o complexo do medo. O<br />

próprio pânico está hoje sendo estudado como uma síndrome característica que acompanha<br />

a depressão. Para Hannah Arendt, Hobbes foi o único filósofo político que incluiu o<br />

conceito de morte — sob a forma do pânico e temor da morte violenta — como esquemachave<br />

de seu edifício teórico. A agressividade é, na perspectiva hobbesiana, o instinto<br />

primordial em toda análise sociológica, juntamente com seu contrário necessário e<br />

antitético, o medo da morte violenta. A dialética do poder e da morte se resolve<br />

racionalmente pela constituição do corpo político: eis a essência da tese.<br />

O receio mútuo do homicídio, incoercível, leva os seres a concluírem um contrato<br />

(covenant), graças ao qual é instituído o governo. O único dever do soberano é manter a<br />

ordem e a paz. Os homens, como partes contratantes racionais, chegam a essa espécie de<br />

"arranjo", tendo em vista propósitos bem claros e definidos: "conferem todo o seu poder e<br />

sua força a um homem ou a uma assembleia de homens, de maneira a reduzir suas<br />

vontades, ou sua pluralidade de vozes, a uma única vontade" que será a vontade soberana<br />

do Leviatã. O processo é teleológico: o desejo de segurança coletiva impõe suas regras.<br />

Ocorre, conforme o trecho que obteve justo renome, do seguinte modo: "Autorizo e<br />

concedo o direito de me governar a este homem ou a esta assembleia de homens, sob<br />

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