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O Dinossauro - Ordem Livre

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granjeia soberania na esfera política. Não pode ser confundida com a "vontade de todos". É<br />

diferente de cada vontade singular e, entretanto, compatível com a livre determinação de<br />

cada indivíduo. Rousseau insiste na diferença entre as duas espécies de "vontade", desde<br />

que a segunda representa apenas o somatório de todos os interesses privados, enquanto<br />

possui a primeira uma realidade superior, em qualidade e valor, à realidade dos membros<br />

individuais do grupo. A Vontade Geral é definida como l'organe sacré de la volonté d'un<br />

peuple". É indivisível, indestrutível, inalienável, incapaz de ser representada e, através do<br />

pacto social, concede ao corpo político (corps politique), isto é, ao Estado, um poder<br />

absoluto sobre seus membros. Tentem, pois, resolver o criptograma!<br />

A distinção agradou a Hegel imensamente, como seria de esperar, tão bem ela se<br />

adaptava a seu abstruso processo dialético da história. Assim também, a declaração de<br />

Rousseau de que "a vontade soberana, meramente em virtude do que é, é sempre o que<br />

deveria ser" concorda facilmente com a identificação hegeliana entre o Real, o Racional e o<br />

Direito (le souverain, par celà seul qu'il est, est toujours tout ce qui doit être). Como<br />

Rousseau se recusou repetidas vezes a aceitar a possibilidade de que a Vontade Geral fosse<br />

relativa, falsa ou imoral, temos que aceitar literalmente seu argumento de que ela maneja<br />

um poder totalitário, ao qual deve o indivíduo entregar por inteiro sua liberdade de<br />

consciência. Naturalmente, insiste Rousseau na condição de que, se algo não andar<br />

corretamente ou for injusto ou confuso, não poderá ser o produto da Vontade Geral. O<br />

argumento é vicioso. Como poderemos saber se há ou não coincidência entre a justiça e a<br />

Vontade Geral? Como determinar a natureza do grupo particular cuja opinião se pretenda<br />

exprimir através da Vontade Geral? Quando Rousseau insiste que todo homem é virtuoso<br />

quando sua vontade particular está conforme em tudo à vontade geral ("Tout homme est<br />

vertueux quand sa volonté est conforme en tout à la volonté générale"), onde devemos<br />

encontrar o paradigma absoluto e a corte suprema de apelação, no caso de qualquer<br />

discrepância? Será Hitler virtuoso porque sua vontade parecia conforme à vontade geral do<br />

povo alemão, expressa através de retumbantes plebiscitos? E Stalin obedecia virtuosamente<br />

à Vontade Geral do povo russo quando mandava 20 milhões de russos para o Gulag? Na<br />

verdade, se a Vontade Geral é sempre pura, sempre a mesma e sempre suprema, é ela<br />

alçada ao nível sublime de emanação direta de uma Alma tribal, semidivina e onipotente<br />

("la volonté générale ne peut pas errer, elle est toujours droite, elle tend toujours à la<br />

conservation et au bien-être du tout et de chacun qui est la source des lois et la règle du<br />

juste et de l'injuste").<br />

T. H. Green observou, corretamente, que uma vez que a vontade do povo, em<br />

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