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O Dinossauro - Ordem Livre

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sobretudo a partir de 1972/74, permanece integral desde a época de Turgot, Adam Smith e<br />

Benthan, como preocupação de moralistas e juristas. Mas Bentham explica: "Aqueles que<br />

tomam a resolução de sacrificar o presente ao futuro (os que poupam, emprestam e são<br />

credores) tornam-se objeto natural da inveja daqueles que sacrificam o futuro ao presente<br />

(os que pediram emprestado e são devedores). As crianças que comeram o bolo são<br />

inimigas naturais daquelas que ainda possuem o seu"... O ressentimento, em suma, é uma<br />

das mais poderosas e entranhadas reações humanas. Tanto a nível individual quanto<br />

coletivo, reconhece Bentham sua presença entre os devedores. Pois a eles custa confessar o<br />

erro cometido, seu vício de prodigalidade, seu hábito de gastar mais do que ganham, sua<br />

boa vida ao procurar utilizar a poupança alheia antes que o produto de seu próprio e duro<br />

trabalho acumulado: é muito mais fácil esbravejar contra o rico banqueiro, sobretudo<br />

quando é estrangeiro, do que apertar o cinto e "fazer economia"...<br />

Eis aí a questão fundamental do problema moral levantado. Vamos recapitular os<br />

dados principais da questão. Na década dos 50 a energia parecia barata e o petróleo era<br />

extraído na Arábia Saudita a menos de um dólar o barril. O Brasil, durante a presidência<br />

Kubitschek, fez uma opção deliberada e que parecia muito sábia, no sentido de criar uma<br />

indústria automobilística de porte e transportar de caminhão, por estrada, um volume<br />

considerável de sua carga pesada — volume que alcança 70% do total. Sem possuirmos<br />

jazidas de petróleo abundantes, tornamo-nos pesadamente dependentes do petróleo<br />

importado. Posteriormente, na década dos 70, conhecemos o "milagre" econômico. As taxas<br />

de crescimento do PIB atingiram cifras prodigiosas de 9, 10 e mesmo 14% ao ano. O país<br />

era dirigido (pelo menos assim se supunha) por "homens de idade madura e mente sadia",<br />

cumprindo a condição essencial de Bentham. Estava agindo livremente e com os olhos<br />

abertos. Chegara à decisão, que então parecia justificar-se, de estimular ainda mais o<br />

desenvolvimento pelo recurso à poupança externa. Poderia haver seguido, por exemplo, o<br />

modelo da Coreia, Formosa, Singapura e Malásia, que são hoje países em acelerado<br />

progresso industrial, sem sofrerem de inflação, nem registrarem o peso de considerável<br />

dívida externa — isso porque fizeram apelo, principalmente, à poupança interna,<br />

trabalhando muito e gastando pouco. A alternativa implicava, pois, mais esforço, mais<br />

austeridade, mais sacrifícios do que estava nossa sociedade disposta a oferecer. Nem todos<br />

os povos se sentem inclinados a abandonar sua dolce vita... Não sendo o mercado bancário<br />

internacional uma instituição de caridade, nem uma entidade previdenciária ou um asilo de<br />

desamparados, não cabe ao sistema financeiro mundial o dever de — nos termos do<br />

arrazoado escolástico contra Bentham — "proteger a indigência contra a extorsão e a<br />

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