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O Dinossauro - Ordem Livre

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lado, pela inércia reacionária e a corrupção da instituição monárquica em França,<br />

desfavorecida com dois reis infelizes, o lascivo Luís XV e o medíocre Luís XVI. E se, de<br />

outro lado, o vírus romântico, que Rousseau fermentara em suas lucubrações desregradas,<br />

não o houvesse feito descarrilar. O elemento anárquico da Revolução, de 1789 em diante, é<br />

com efeito distilado pelo Romantismo e por isso, sem dúvida, Diderot e os Enciclopedistas<br />

reagiram com tamanho horror aos princípios de Rousseau.<br />

Essencialmente, configura o Despotismo Esclarecido a transição histórica da<br />

autoridade tradicional, patrimonialista, para a autoridade racional-legal — para usarmos as<br />

expressões de Max Weber. O objetivo em todos os países é o mesmo. Trata-se de liquidar,<br />

de uma vez, com os resquícios do feudalismo, sobretudo com a servidão rural. Proporcionar<br />

uma base legal para as reformas, corrigindo os privilégios injustos, estendendo a imposição<br />

a todas as classes em bases igualitárias, suprimindo as torturas e práticas desumanas,<br />

promovendo a instrução pública, inspirando a tolerância religiosa, liberando a economia dos<br />

entraves corporativos, cultivando terras novas, incentivando o desenvolvimento tecnológico<br />

e científico e, de um modo geral, ampliando o bem-estar geral — assegurando, em suma, o<br />

que chamaríamos de Desenvolvimento. Sem esquecer as considerações de segurança e<br />

poder nacional que desempenhavam, na época, enorme papel na consciência dos<br />

governantes.<br />

Vale insistir no fato de que os philosophes detestavam o Absolutismo, não como<br />

excesso de autoridade, mas como risco de prepotência e irracionalidade. Para quem<br />

venerava acima de tudo a razão, o mal dos regimes monárquicos autocráticos não residia no<br />

exercício legítimo da autoridade, mas na arbitrariedade possível, no capricho, no privilégio<br />

atrabiliário, na ineficiência burocrática, na injustiça que brada aos céus e nessa empáfia dos<br />

filhos de duques que corrompiam o ancien régime. Que um déspota estivesse pronto a<br />

varrer todas essas práticas absurdas e os philosophes logo a ele aderiam, passando a louválo<br />

como um herói. Se o que se pregava era a razão e a lei, o objetivo não consistia,<br />

simplesmente, em reduzir-lhe o poder, mas controlá-lo através de instrumentos legais.<br />

Essencialmente, o que se propunha era o império da lei. Mesmo os mais exacerbados<br />

inimigos da "tirania", como Diderot, Rousseau e Voltaire, não desdenhavam o convívio<br />

com príncipes, duques e marqueses, para não falar com a figura universalmente admirada<br />

de Frederico II de Hohenzollern. Voltaire, aliás, não era de modo algum igualitarista: o que<br />

ele pregava era o privilégio da inteligência em lugar do privilégio de sangue.<br />

O critério último da autoridade, em suma, era racional-legal. Quando Voltaire<br />

acentua que "la liberte consiste à ne dépendre que des lois" — ele exprime esta convicção.<br />

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